“Os doentes querem uma solução rápida para o seu mal-estar, o que nem sempre é possível”, afirma Duarte Correia

 Está a aumentar o número de tratamentos realizados no Centro Multidisciplinar da Medicina da Dor do SESARAM.

No ano passado, 2.137 foram realizados, um acréscimo de 198 face a 2017, ano em que foram efetuados 1.939 tratamentos, de acordo com os dados disponibilizados pelo gabinete de comunicação do SESARAM. Os doentes que cá vêm são, na maioria dos casos, referenciados por outras unidades.

 

Estima-se que a dor crónica afete cerca de 30% dos portugueses. A lombalgia é a principal causa da epidemia que tende a aumentar com o envelhecimento da população. É neste âmbito que se realiza o XIV Fórum da Dor das Ilhas Atlânticas, iniciativa que tem início hoje e decorre até sábado no Hotel Meliã Madeira Mare, no Funchal. Assinala-se ainda o XXVIII aniversário do Centro Multidisciplinar da Medicina da Dor.

 

Duarte Correia, coordenador do referido centro, define a dor crónica como aquela que continua presente três meses após ter cessado o fator que lhe deu origem.

 

A problemática acarreta grandes limitações para a qualidade de vida e para o desempenho profissional dos doentes. Para além disso, calcula-se que em Portugal o custo anual da dor crónica seja superior a três milhões de euros.

 

O tratamento envolve as seguintes fases: melhoria do sono do doente; melhoria da dor em repouso; tornar o doente ativo; controlar a sua dor na atividade laboral e promover a sua reintegração.

 

E 'DOENTES MAIS EXIGENTES'

 

E se antigamente o sofrimento era socialmente aceite, hoje em dia os doentes querem uma solução rápida para o seu mal-estar, o que nem sempre é possível, atendendo à perspetiva multidisciplinar que este assunto requer.

 

Para além disso, a polémica que tem afetado, nas últimas semanas, o SESARAM, em particular a Unidade de Medicina Nuclear, tem contribuído para aumentar as exigências de alguns doentes que frequentam o centro. E há mesmo quem faça questão de demonstrar a sua insatisfação aos profissionais de Saúde. “As pessoas têm muita insegurança naquilo que nós dizemos. Notamos a mudança de alguns comportamentos, o que não é bom, nem para nós, nem para o doente”, referiu Duarte Correia.

 

“TRABALHAR DE ACORDO COM AS POSSIBILIDADES”

 

 “Se poderíamos fazer mais ou melhor? Muito possivelmente sim, mas que nós damos o nosso melhor aqui todos os dias, damos. As pessoas que aqui estão, trabalham muito para além do seu horário de trabalho…”, acrescentou.

 

E salientou que há alguns 'handicaps' com os quais a unidade tem de lidar: dois dos médicos têm mais de 60 anos; um deles está de baixa, por motivos pessoais; e o elemento mais novo parte brevemente para outro projeto.

 

Aqui trabalham três anestesistas, um deles a tempo parcial. A equipa é ainda constituída por uma auxiliar, uma administrativa, um nutricionista a tempo parcial, um elemento da área da Neurologia, uma farmacêutica e será, nas próximas semanas, reforçada com uma assistente social.

 

“Estamos a trabalhar de acordo com as possibilidades. Evidentemente que podíamos ter mais gente e, portanto, 12 horas de consulta ao dia. Não é que as pessoas não estejam cá 10 horas, porque normalmente estão aqui até às 18 ou 19 horas e não são remuneradas por isso”, informou.

 

O coordenador disse ainda que uma política de atração de profissionais será desenvolvida, independentemente de serem médicos ou não. “Para nós é importante ter pessoas de várias áreas, de diferentes gerações, de faixas etárias diferentes”, ressaltou.

 

O grupo conta com o apoio da administração, mas há um fluxo cada vez maior de doentes que querem “resultados a curto prazo que ninguém lhes pode dar” para que não sejam criadas falsas expetativas. “É preciso paciência de um lado e do outro para resolvermos as situações”, concluiu.

 

 In “JM-Madeira”