De acordo um com estudo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), doentes idosos e com múltiplas comorbilidades são os que apresentam maior risco de mortalidade por pneumonia.
Contrariando a tendência de que são as doenças crónicas que comportam maior risco de mortalidade, as pneumonias – doenças agudas – são, dentro do grupo das patologias respiratórias, excluindo cancro do pulmão, as que mais matam no nosso país. Ao longo dos últimos anos, Portugal tem vindo a apresentar uma melhoria dos indicadores da saúde respiratória, revelando, de acordo com o relatório do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da Direção Geral da Saúde (DGS), uma das mais reduzidas taxas de mortalidade e internamento por DPOC e asma dentro do grupo dos países da OCDE. No entanto, o mesmo não se verifica em relação às pneumonias, situação que despertou a preocupação do Ministério da Saúde e da DGS.
Para melhor compreender os fatores que potenciam o risco de morte associado às pneumonias, a DGS desafiou, no ano passado, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) a estudar este “fenómeno” que foge claramente dos padrões epidemiológicos dos restantes países da OCDE. Esse estudo foi desenvolvido pelo Prof. Doutor Venceslau Hespanhol, presidente da SPP, em estreita colaboração com a Prof. Doutora Cristina Bárbara, Diretora do Programa para as Doenças Respiratórias da Direção Geral da Saúde e os resultados foram recentemente apresentados.
“De facto, parecia estranho que todos os indicadores no âmbito das doenças respiratórias estivessem a melhorar e que a pneumonia, num país de sol com o nosso, continuasse a ter um impacto tão importante na mortalidade”, afirma o presidente da SPP. Segundo o Prof. Doutor Venceslau Hespanhol, chegou a ser sugerida uma incorreta classificação dos óbitos, ou seja, “a possibilidade de a causa da morte ser atribuída à pneumonia quando, na base, estava uma doença mais grave”.
O estudo desenvolvido ao longo deste último ano teve como principal objetivo determinar as características das pessoas que morrem por pneumonia. Para tal, foram utilizadas as bases de dados oficiais do Estado (ACSS).
Ao todo, foram estudados 43 267 episódios de internamento por pneumonia, ocorridos durante o ano de 2015, correspondentes a 38 741 doentes, dos quais, 35 009 tinham tido um único episódio e 3732 tinham tido múltiplos episódios (entre dois a cinco diagnósticos de pneumonia).
“A letalidade por pneumonia foi mais elevada sobretudo em doentes mais idosos, nas faixas etárias acima dos 75 anos, com múltiplas comorbilidades graves. A letalidade por pneumonia foi diminuta entre os jovens, sendo residual em idade pediátrica”, salienta o presidente da SPP, à margem do 33.º Congresso de Pneumologia.
Relativamente à distribuição dos episódios de pneumonia ao longo do ano, os picos ocorreram, como esperado, nos meses mais frios: entre novembro e janeiro. No entanto, a letalidade por pneumonia tem o seu pico máximo em julho e agosto.
No que respeita à etiologia, o pneumococo é um agente transversal a todas as idades, mas mais frequente nos mais jovens. A partir dos 75 anos, a etiologia altera-se verificando-se uma maior representatividade de casos de pneumonias a gram-negativos e estafilococos. A distribuição etiológica em doentes com menos de 75 anos ou com mais de 75 anos é completamente diferente.
Dentro das comorbilidades que mais elevam o risco de letalidade associada às pneumonias, surge a insuficiência renal crónica, a doença oncológica, as demências, a doença vascular cerebral, a caquexia e as limitações graves da mobilidade. A DPOC e a diabetes aumentam o risco de adquirir pneumonia, mas não se associam a risco acrescido de letalidade.
“Quando analisamos os relatórios da OCDE, constatamos que Portugal tem uma esperança de vida muito elevada, ao nível dos países mais desenvolvidos. Todavia, tem uma esperança de vida sem doença, mais modesta, que ainda tem de ser melhorada. Um número muito importante de pessoas vive com doenças crónicas ao longo de muitos anos (10-15 anos) o que, para além de interferir na qualidade de vida, aumenta a suscetibilidade para outras doenças, incluindo a pneumonia, não esquecendo a enorme pressão que esta situação representa sobre o sistema de saúde”, justifica o Prof. Doutor Venceslau Hespanhol. Para o presidente da SPP, é neste grupo de doentes que as intervenções deverão centrar-se, prevenindo, identificando e tratando o que é reversível e controlando as restantes situações. Face à distribuição etiológica das pneumonias a vacinação contra a gripe é fundamental, bem como a vacinação anti-pneumocócica de acordo com as indicações da DGS.
In “Jornal Económico”