São as lesões causadas pela diabetes mellitus a nível da retina, no olho, que dão origem à retinopatia diabética que, na sua forma mais grave, é a principal causa de cegueira irreversível em indivíduos de idade ativa, abaixo dos 60 anos.
No dia 14 de novembro, Dia Mundial da Diabetes, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia recorda que o doente diabético pode apresentar um risco de cegueira cerca de 25 vezes maior do que a restante população. A prevenção e tratamento precoce são fundamentais no combate à doença.
Esta patologia ocular, a mais conhecida complicação microvascular da diabetes, pode ser de dois tipos: a retinopatia diabética não proliferativa e a proliferativa, sendo esta última a mais grave com alterações importantes nas estruturas internas posteriores do olho. Nas suas fases iniciais, a doença pode evoluir sem qualquer tipo de sintomas, sendo por isso silenciosa e enganadora. Nas fases mais avançadas, o principal sintoma é a perda, muitas vezes de uma forma irreversível, da acuidade visual, geralmente consequência do edema macular que se vai instalando com destruição da área mais nobre da retina. Quando isto acontece, estamos perante as formas graves de retinopatia diabética.
O risco de desenvolver esta patologia atinge em particular todos os doentes diabéticos de longa data (com mais de vinte anos de evolução de doença), mesmo com algum controlo eficaz da glicose no sangue, e todos aqueles que, por qualquer razão, não têm a sua diabetes metabolicamente controlada. A par disto, muitos doentes diabéticos apresentam também outras comorbilidades, como a hipertensão arterial, a obesidade e a nefropatia, que podem agravar a doença ocular.
A retinopatia diabética tem tratamento, que depende da fase em que se encontra a doença: nas formas em que há doença ocular manifesta, pode recorrer-se à fotocoagulação laser e às injeções intravítreas de fármacos antiangiogénicos e/ou de corticosteróides. A decisão de quando tratar e como tratar depende somente da decisão médica, de acordo com o quadro clínico encontrado, e com a avaliação do potencial risco para perda de visão. O tratamento isolado ou combinado, laser e injeções intravítreas, podem reduzir em mais de 50% o risco de perda visual grave. Já nas fases mais graves da retinopatia diabética proliferativa, o tratamento de eleição é quase sempre o cirúrgico. No entanto, aqui o prognóstico visual é, em muitos casos, reservado.
No entanto, mais do que tratar, é fundamental prevenir. “A prevenção da retinopatia diabética deve ser efetuada a todos os doentes diabéticos através de rastreios”, defende Manuel Monteiro Grillo, presidente da SPO. “Há, em Portugal, programas para rastreio da retinopatia diabética em alguns centros de saúde, onde os doentes diabéticos são submetidos a uma fotografia do fundo ocular para depois, caso apresentem lesões, serem orientados para uma consulta de oftalmologia da especialidade”, afirma o especialista.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia recomenda que todos os diabéticos sejam seguidos por um oftalmologista e lembra que as fases iniciais da doença são silenciosas e sem sintomatologia, o que pode negligenciar ou atrasar a ida ao médico. O controlo metabólico rigoroso e a ida a consultas de oftalmologia de rotina, que cujo intervalo será ditado pelo quadro clínico e risco de perda irreversível de visão para cada indivíduo, são cuidados indispensáveis.
Em Portugal, estima-se que a diabetes afete cerca de um milhão de indivíduos e que metade destes nunca tenham sido avaliados em consulta de oftalmologia.
Sara Silvino
In “Tribuna da Madeira”