Uso incorreto e falta de cuidado na utilização são alguns ‘erros’ cometidos
A lixívia, simples ou misturada, pode ser uma ‘armadilha’ para as donas de casa. Médico recomenda ler embalagens.
Na passada sexta-feira, a inalação de lixívia terá provocado a morte de uma mulher, que sofria de problemas cardíacos. No entanto, o alerta do médico especializado em Medicina do Trabalho, Rui Silva, é feito a todo o tipo de pessoas, “com ou sem doenças”.
Quando o composto da lixívia, hipoclorito de sódio, é misturado com outros produtos, designadamente ácidos, liberta o cloro. Este gás (cloro), pode matar uma pessoa. A gravidade da intoxicação aguda depende da concentração deste gás na atmosfera e das características da pessoa - como a idade (as crianças são mais vulneráveis) e se a mesma é portadora de doença grave, em especial do tipo respiratória ou cardíaca. As lesões iniciais. do uso indevido deste “branqueador” começam por ser a nível das vias respiratórias – irritação dos nariz e da garganta, e dificuldade respiratória de intensidade variável (asma) e, por vezes, provoca náuseas e vómitos. Aumentando a concentração ou o tempo de inalação, a situação pode evoluir para um edema do pulmão e, em última análise, à morte.
Rui Silva diz também que a lixívia deve ser evitada em casa mas quando usada, é necessário seguir as indicações na embalagem.
“Sabemos que a lixívia é um bom desinfetante. Todavia, há “abusos”, em especial a nível doméstico. Um dos exemplos, é na “desinfeção” das sanitas, um conceito que não devia existir. “A sanita é para ser limpa, e não desinfetada”, refere, frisando que a limpeza devia ser feita com água e sabão, ou detergentes. Uma das excepções desta “regra” acontece, por exemplo, em casos como a limpeza de pavimentos conspurcados com dejetos de animais. Por outro lado, diz que “não se deve nunca, mas nunca, misturar lixívia com produto nenhum”, salientando que esta é a forma de uso mais grave, devido à libertação de cloro.
São já muitos os “casos de intoxicação” devido a misturas com a lixívia que passaram pelo médico, tendo depois levado a situações de “insuficiência respiratória grave”.
Outra atitude a evitar é misturar a lixívia com água quente, pois essa combinação gera um efeito de aerossol com vapores tóxicos.
Experiência de Rui Silva evidencia descuido de produtos quimícos em casa e nas empresas da Madeira
“Todos os produtos químicos têm regras”
Ainda que atualmente não existam pessoas hospitalizadas no Hospital Dr. Nélio Mendonça devido à inalação de produtos químicos, a experiência do médico Rui Silva, especialista em Medicina do Trabalho, evidencia que há uma “tendência generalizada” para algumas empresas na Região desconhecerem ou não valorizarem o uso de equipamento. Outras vezes, existem cuidados, mas são escolhidos os equipamentos menos adequados.
“As pessoas protegem-se pouco e quando o fazem, usam as máscaras erradas para o fim. Não podem ser máscaras para poeiras”, observa, lamentando que assiste a este problema com “muita frequência”. O mesmo conselho para os que trabalham com outros produtos químicos, como os solventes das tintas, pois necessitam de uma máscara adequada para esse fim, e não “uma para poeiras”. E, o facto de estarem em espaços abertos, não invalida que tenham “uma intoxicação respiratória”.
“No caso dos solventes, que são derivados do petróleo, a situação complica-se, pois são produtos que inalados ao longo de vários anos, mesmo em doses baixas, podem provocar doenças muito graves como anemias e alguns tipos de cancro”, realça. Por outro lado, mesmo usando uma boa máscara, é necessário saber que esta pode estar saturada, devido ao uso. Novamente, são raros os casos em que essa é substituída.
São diversos os motivos que levam as pessoas a não terem cuidados com os produtos químicos que usam.
Por um lado, pensam que a utilização será usada “por uns minutos”, outras porque já usaram várias vezes e não lhes aconteceu nada; e noutros casos desconhecem os efeitos do produto. Há, depois, o caso dos agricultores, que “raramente” se protegem dos pesticidas.
CUIDADOS A TER COM A LIXÍVIA
- Não misturar lixívia com outros produtos;
- Usar o menos possível e nas ocasiões certas;
- Produtos domésticos não deixam de ser químicos;
- Seguir as instruções nos rótulos das embalagens.
ALGUMAS PROFISSÕES DE RISCO
- Pintores de automóveis (componentes das tintas)
- Construção Civil – solventes das colas (produtos e cimentos aplicados) e das tintas. Precisam de máscara, óculos, luvas, pelo menos. Nestes meios, a pessoa está, muitas vezes, exposto ao risco de doenças que decorrem da sua profissão, mas também dos outros.
- O electricista, também, trabalha em vários meios e tem de se proteger de substâncias que estão a ser libertadas por outros profissionais.
- Indústrias dos combustíveis (trabalham com solventes-benzeno, xileno (derivados do petróleo). Aconselham-se o uso luva nos postos de carregamento e os condutores de camiões devem usar máscaras em determinadas fases do transporte.
- Laboratórios – diversos produtos químicos de variados tipos que obrigam ao máscara e a procedimentos específicos.
- Trabalhadores de fábricas de materiais plásticos e de outros tipos.
- Empregadas Domésticas – o uso de pesticidas, em plantas e hortas. Além dos produtos de limpeza de vários tipos – desentupidores de canos e da lixívia.
Petra Teixeira
In “Jornal da Madeira”