Os idosos portugueses com mais de 65 anos têm em média três doenças cónicas e um terço vive com menos de 500 euros por mês.

Traçado o cenário, o projeto Saúde.com e apresenta hoje um manual prático com um programa de 12 semanas para a promoção de estilos de vida saudáveis.

 

Receitas económicas e exercícios físicos e de memória que qualquer pessoa, mesmo com poucos recursos, pode fazer para melhorar a sua condição são algumas das propostas, explicou ao i Helena Canhão, coordenadora do projeto do CEDOC - Centro de Estudos em Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

 

A responsável explica que, apesar das melhorias na esperança de vida da população, os últimos cinco a dez anos de vida dos idosos portugueses são suportados com má qualidade de vida. “As pessoas vivem sozinhas, têm baixa literacia - têm só até quatro anos de escolaridade. Acabam por comer mal, também muitas vezes porque não conseguem preparar alimentos, porque por vezes vêm as suas funções cognitivas a diminuir e perdem a vontade de os preparar, ou ficam mais deprimidas e não o fazem”, explica a investigadora. Quando se compara os idosos portugueses com os de outros países como a Noruega, onde a esperança de vida é acompanhada por mais anos de vida saudável, percebe-se que outra diferença fundamental está na atividade física. “Os noruegueses são educados a fazer exercício físico e os portugueses são muito sedentários, estão muito em casa, vêm televisão, muitas vezes sozinhos e com dores.”

 

Mudar o paradigma

 

Helena Canhão defende que é necessário mudar a forma como se encara a doença nos idosos, que agora caracterizaram a fundo. “Temos de olhar para o doente e não para cada uma das doenças em separado, e pôr o doente no meio disto, se não são várias queixas, várias doenças, vários medicamentos, vão à terapia, não têm força muscular e depois caem e fazem fraturas”, explica. “Não interessa tratarmos uma doença individualmente, mas sim olhar para eles como um todo.”

 

Aproximar Portugal do acompanhamento que é feito dos idosos lá fora é um dos apelos. “Em Portugal, todos sabemos de histórias de pessoas que morrem e só são encontradas um ou dois dias depois, porque estão isoladas - 25% dos nossos idosos vivem sozinhos. Na Noruega, já têm casas inteligentes fornecidas pelo Estado que ajudam os idosos e que alertam os familiares ou os centros de saúde se repararem em alguma mudança de padrão de vida do idoso.”

 

Por agora, reforçar a informação disponível para este grupo mais vulnerável é um dos objetivos do manual. Sublinhar a importância de beber água e cortar no tabaco e no álcool são algumas das principais recomendações.

 

O Projeto Saúde.come tem vindo a analisar e diagnosticar as necessidades da população idosa em Portugal desde 2011. Na sessão de lançamento do livro, amanhã pelas 17h30 na Nova Medical School, será ainda apresentada a caracterização detalhada dos portugueses com mais de 65 anos.

 

José Sérgio

 

In “Público”