Há jovens madeirenses na mira dos promotores do jogo “Baleia Azul”. Segundo apurou o JM, uma dezena de pessoas terá já feito queixa junto da polícia.

 

O jogo “Baleia Azul” já estará a angariar jovens na Madeira. Ao que o JM apurou, dez madeirenses terão sido instigados a participar no referido jogo que tem como etapa final o suicídio. Só na terça-feira terão entrado na Polícia de Segurança Pública (PSP) três casos de pessoas que foram abordadas para participar neste jogo, informa uma fonte que está a acompanhar de perto este fenómeno que atinge sobretudo estudantes e que acaba de chegar à Madeira. Porém, fontes ligadas à PSP apenas confirmaram ao JM a existência de duas queixas entradas, que poderão configurar uma tentativa de “aliciamento” para o referido jogo, que ao longo das 50 etapas que o caraterizam sujeitam os participantes a atos como a auto- mutilação, ver filmes de terror e ter comportamentos de risco.

 

No final da semana passada, o JM contactou a Direção de Combate ao Cibercrime na Polícia Judiciária nacional mas, na altura, fonte deste departamento disse não existirem vítimas, nem suspeitas de jovens madeirenses que tivessem aderido a estas práticas. Com efeito, estes casos que surgiram na Madeira foram reportados às autoridades policiais apenas esta semana. Preocupação Passa Por Todos

 

Apesar dos aliciamentos já registados, não foi possível confirmar se existem jovens madeirenses que estejam atualmente a participar na comunidade “Baleia Azul”.

 

De acordo com a campanha da PSP destinada ao combate deste jogo, inicia-se através de conversas nas redes sociais, em que amigos apresentam e propõem a entrada no jogo. Posteriormente é o “curador” que valida a aceitação da vítima e integra-a numa aplicação de conversação através da qual passam a interagir diariamente.

 

Ao que se sabe até ao momento, este “mentor” começa por simular interesse pela vítima e envolve-a numa mentira física e psicologicamente autodestrutiva. Se a vítima tentar desistir do desafio, o curador amedronta-a, enviando-lhe montagens de vídeos, que envolvem pessoas chegadas (como os pais) e até fotos, dando assim a falsa prova ao jovem que este está a ser vigiado ou que pode ser humilhado em caso de desistência. Talvez por ser um jogo que funciona sobretudo através das redes sociais, são os jovens as principais vítimas em todo o Mundo, sendo que o Ministério Público tem em curso três inquéritos, nas comarcas de Setúbal, Portalegre e Faro, relacionados com o jogo “Baleia Azul” e existem pelo menos oito vítimas identificadas. O caso mais recente em Portugal, de acordo com o Correio da Manhã, pertence a uma jovem de 13 anos, residente no Feijó, em Almada, que se automutilou com um corte desde o pulso até à dobra do cotovelo.

 

A adolescente recebia mensagens através da aplicação para o telemóvel através do “Whatsapp” de um mentor que lhe enviava ordens, refere o CM. Se estas não fossem cumpridas não só a jovem teria graves consequências, como também sofriam os pais e a restante família.

 

JOGO PODE CHEGAR A ADULTOS

 

Este crime cibernético começou na Rússia, teve continuidade no Brasil e rapidamente se propagou por Portugal. As autoridades polícias de outros países como França, Espanha, Roménia e Inglaterra também já registaram queixas e até casos.

 

O assunto começou a ser mais falado no País há cerca de duas semanas mas sabe-se que na Madeira são já várias as escolas que estão atentas aos comportamentos dos estudantes. A presidente da Associação de Pais do Colégio dos Salesianos, Inês Oliveira, realça que ainda que não existam casos nem suspeitas nesta entidade escolar, admite que toda a escola, em conjunto com a Direção Escolar e o Gabinete Psicopedagógico, está em «alerta máximo» para todos os pormenores que evidenciam a presença do “Baleia Azul” nos alunos.

 

«Todos os pais devem estar em alerta e atentos aos comportamentos dos filhos», explica. Além de professora, Inês Oliveira é mãe e reconhece que as relações pessoais e efetivas dos jovens destes dias merecem uma reflexão.

 

«Não é que seja uma geração melhor ou pior que a minha mas a vida tornou-se mais pública com a moda das redes sociais. Entrou-se num campo descontrolado. Enquanto que os adultos advertem estes jovens para terem cuidado com os perigos das redes sociais e para valorizarem mais as presenças diretas, os mais novos não se apercebem do perigo que correm em divulgar certas informações na Internet», realça, lembrando que até o pai da empresa tecnológica da Microsoft, Bill Gates, admitiu recentemente que controlava as horas dos filhos na Internet.

 

O grande receio desta presidente da Associação de Pais é que este jogo se disperse pelos mais idosos, que procuram nos dias de hoje inteirar-se das redes sociais.

 

«Achamos que estamos seguros ao privatizar a informação mas há sempre forma de este tipo de pessoas, normalmente especializados em tecnologias, conseguir chegar até ela. Nós atualmente vivemos num Big Brother real. Qualquer pessoa coloca informação sua na Internet e corre, por isso, o risco de cair em perigos deste género. Mas são os jovens que têm mais dificuldade em perceber estes perigos pois vêm nas redes sociais uma forma de se socializarem», refere a professora.

 

ALERTA NAS ATITUDES

 

Este tipo de ameaças que acontecem com o jogo “Baleia Azul” são vistas como um risco virtual, mas devem ser tratadas como perigos da vida real, adverte Nelson Carvalho, diretor da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD), serviço pertencente ao Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais.

 

É um trabalho a ser feito em especial pelos pais que são quem mais facilmente podem «monitorizar» a presença destes jovens na Internet, seja nos telemóveis, tablets e nos computadores.

 

«É preciso explicar que, tal como outros perigos da vida real, as redes sociais têm coisas boas e coisas más e as coisas más incluem jogos como este. Além disso, é necessário que os pais estejam mais atentos a novos sinais. Por exemplo, às vezes os jovens mentem acerca do tempo que ficam à frente dos ecrãs e não é só dos computadores. Inclui smarthones, tablets e até televisão. Portanto o computador e a Internet devem ser outra forma de passatempo», refere o psicólogo, acrescentando que os pais devem «fomentar preferencialmente a interação com os outros cara a cara, não na rede», refere o responsável da UCAD.

 

MONITORIZAR SEM TIRANIA

 

Esta monitorização, que consiste em saber com quem falam e por onde navegam, é importante também para os jovens que passam largas horas na Internet e que aparentam estar em segurança na própria casa pois, como refere Nelson Carvalho, os perigos acontecem tanto de manhã, como à noite.

 

«Como na vida real nós dizemos aos nossos filhos com quem é eles saem, a que horas vêm, a que horas estão previstos sair e chegar, onde vão e com quem. A Internet deve funcionar da mesma maneira, mas sem ser um pai tirano. É preciso mostrar aos que estão a crescer com a Internet que podem estar no espaço mas, como tudo, existe um limite», adverte.

 

Os ditos administradores do jogo “Baleia Azul”, responsáveis pela conclusão das 50 tarefas, costumam aliciar jovens de acordo com duas caraterísticas específicas.

 

 «Há aqueles que podem ter um certo quadro psicopatológicocional e há outros que apenas querem correr riscos e não têm aparentemente qualquer receio. No segundo caso, os jovens gostam de se desafiar e experimentar o risco», refere o psicólogo, acrescentando que a maioria não se apercebe a tempo que no fim não consegue «controlar o risco», ainda que sintam que à partida que vão conseguir. Continua: «Porém depois vão perdendo essa capacidade e vão sendo manipulados. Por isso também é importante preparar os nossos jovens para usarem a Internet e o virtual com autonomia, responsabilidade e competências sociais, e se o fizermos desde tenra idade, também quando chegar à questão do virtual eles estarão minimamente preparados».

 

LIDAR O QUANTO ANTES

 

Ainda que a UCAD não tenha registado, até à semana passada, casos de vítimas deste jogo considerado um crime cibernético, o responsável da entidade refere que caso aconteça há uma atitude a ter: «A pessoa deve primeiro falar com o jovem, ver se este corre perigo de vida, se há ameaças, contactar as entidades competentes, nomeadamente a polícia para desta forma atuar rapidamente. No fundo, é necessário saber o que se está a passar e procurar logo ajuda. Quando mais cedo atuarmos, melhor será o prognóstico», salienta Nelson Carvalho.

 

Por sua vez, quanto mais cedo os pais comunicarem com os filhos acerca deste tipo de fenómenos e acontecimentos do mundo digital, melhor será a correção destes «problemas» que não acontecem apenas na adolescência.

 

«Os encarregados de educação dos jovens devem falar das redes sociais e dos seus perigos o quanto antes porque este tipo de problemas começam cada vez mais cedo», explica.

 

Sinais como o súbito isolamento, alterações de humor, saída a meio da noite (por volta das 4h20 da manhã, altura em que muitos dos desafios acontecem), cortes pelo corpo (como no lábio e na palma da mão), desinteresse pela escola e por outras atividades, como a simples ida a um café com os amigos ou apenas jogar futebol; devem ser tidos em conta nesta altura em que cerca de 130 adolescentes já se suicidaram em todo o Mundo por causa do jogo “Baleia Azul”.

 

Numa das queixas, a vítima terá sido ameaçada de morte se não entrasse no jogo

 

PSP terá recebido duas queixas de jovens aliciados

 

 A PSP tem o registo de pelo menos duas queixas relacionadas com tentativas de aliciamento para o jogo “Baleia Azul”. Ao que o JM apurou, numa das queixas, a vítima terá sido ameaçada de morte se não entrasse no jogo, conhecimento pelas etapas de auto-flagelação que culminam com o incitamento ao suicídio.

 

A ameaça terá sido feita por telefone, o que significa que o “angariador” terá conseguido aceder ao número da vítima. Desconhece-se o tipo de relação existente entre o “angariador” e a vítima ou até se se conheciam, uma vez que não é de afastar a possibilidade de o “angariador” ou “mentor”, como também é identificado, ter conseguido por terceira pessoa o contacto da vítima e desta apenas o conhecer através das redes sociais, sem qualquer contacto presencial. Ao que conseguimos apurar, o “angariador” falaria português com sotaque, ainda que as nossas fontes policiais não tivessem conseguido identificar donde seria originária aquela voz. Só parecia que era de alguém estrangeiro. Porém, outras fontes referem que os angariadores seriam de origem brasileira, embora não tivéssemos conseguido confirmar se entre esses supostos angariadores brasileiros estaria aquele que fez a chamada telefónica com a ameaça de morte.

 

Já quanto à outra queixa que terá dado entrada na Polícia de Segurança Pública, as nossas fontes avançam que o pedido de adesão ao jovem madeirense terá sido feito a partir da rede social Facebook. A vítima terá sido contactada via mensagem, mas recusou-se a participar. Ainda assim, terá feito queixa do sucedido à polícia. Aliás, nenhum destes jovens estudantes abordados aderiu ao jogo.

 

De referir que estes dois casos deram entrada esta semana na Polícia de Segurança Pública, que agora irá remetê-los para o Ministério Público. Será depois esta entidade a decidir quem fará a investigação, sendo certo que habitualmente cabe à Polícia Judiciária tratar de crimes desta natureza, que impliquem o uso de tecnologias informáticas. JM Alberto Pita

 

 

 

OPINIÕES

 

Catarina Silva e Vanessa Mendonça são estudantes de Medicina, Alex Faria estuda Engenharia Informática e Filipe Olim está a tirar o mestrado em Bioquímica aplicada. O que têm em comum estes quatro estudantes da Universidade da Madeira? Concordam que o jogo “Baleia Azul” mostra um retrato da sociedade atual mas todos deixaram argumentos diferentes.

 

CATARINA SILVA 18 ANOS

 

«Ouvi falar do jogo da “Baleia Azul” através de uma amiga mas não conheço ninguém que esteja a participar nele, nem conheço pessoas que pudessem participar. Quando ouvi falar disso pela primeira vez fui pesquisar com as minhas amigas e fiquei assustada com as tarefas. Não sei como é possível uma pessoa querer participar num jogo destes».

 

ALEX FARIA 21 ANOS «Eu não chamo isto jogo. Trata-se sim de uma chantagem que a pessoa acaba por ser ameaçada por outra que fala num “Ele” que faz tudo, quase como um Deus. A Internet é uma ferramenta, como muitas outras que existem, e que em outros tempos existiram, e não acho que haja relação direta com estas tarefas que levam à morte. Também acho que não podemos censurar ninguém que participe nisto porque não sabemos qual a lavagem cerebral que este “mestre” faz aos jovens. Isso sim é que é o problema».

 

VANESSA MENDONÇA 18 ANOS «Existem dois lados para entrarem neste jogo. O lado do desafio em que os adolescentes procuram desafiar-se contantemente, algo que se vê muito nos dias de hoje. Depois existe o lado das pessoas que acreditam que estas 50 tarefas dadas por um desconhecido podem de alguma forma os ajudar. Para piorar os dois lados é que sendo a Madeira uma ilha, de pequena dimensão, pode ser rápido para se alastrar».

 

FILIPE OLIM 22 ANOS «A influência do “Baleia Azul” na sociedade mostra como está a situação atual. O progresso da sociedade e a maior comunicação entre as pessoas, traz também pressão, em especial nos jovens. São especialmente os mais novos que sentem cada vez mais a necessidade de se incluírem em grupos e terem novos amigos. Este “jogo” acaba por fazer isso no início mas depois acabam por perder o controlo».

 

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Psicóloga Diva Fernandes adverte que assunto deve ser bem explicado pelos pais aos filhos «Não é boa ideia não falar» sobre o jogo “Baleia Azul”

 

A psicóloga Diva Fernandes realça que para combater o jogo da “Baleia Azul” deve haver comunicação direta com os jovens.

 

O receio instalou-se nas pessoas, quer integrem o jogo “Baleia Azul” ou não. Se por um lado existem meios de comunicação a alertar o Mundo das consequências deste crime cibernético, por outro existe quem defenda que falar no assunto pode criar o efeito “boomerang” nos mais susceptíveis.

 

No entanto, a psicóloga Diva Fernandes explica porque é que a comunicação é extremamente importante e porque é que «não é boa ideia não falar sobre o assunto». «Às vezes a superproteção dos pais acaba por deixar as crianças e jovens ainda mais expostos», disse a formadora.

 

A comunicação deve existir entre pais e filhos, no que toca ao fenómeno “Baleia Azul”, de forma a que os mais novos saibam que a informação na Internet deve ser condicionada a desconhecidos. O mesmo acontece com as publicações sobre «estados de alma», que realçam as «fragilidades» destes jovens.

 

«É importante que saibam que há um conjunto de informações que para segurança de todos apenas deve estar disponível para quem conhecemos pessoalmente (e ainda assim, nunca estaremos 100% protegidos). Segurança, proteção compreensão e atenção às nossas crianças e jovens são, quanto a mim, as palavras de ordem», refere.

 

Diva Fernandes descreve que atualmente não acompanha no consultório privado nenhum caso ligado ao jogo, nem conhece psicólogos que estejam a acompanhar. Reconhece porém que a preocupação tem sido «crescente» por parte de familiares, por amigos que são pais e por professores», que procuram meios para prevenir e agir, caso vejam situações que correspondam aos sinais de alerta que têm sido descritos pelos meios de comunicação, PSP e PJ.

 

 Diva Fernandes refere ainda que o facto de haver jovens a participar nestes desafios mostra que estes têm «necessidade de atenção em primeiro lugar, e de integração a par ou logo depois», visto que acreditam numa figura desconhecida, que se autodenomina “curador” e obriga-os a realizar desafios perigosos. JM ©

 

“BALEIA AZUL” CHEGOU À CHINA SEM FAZER VÍTIMAS

 

A empresa tecnológica Tencent, propriedade de algumas das redes sociais mais populares na China, encontrou pelo menos 12 grupos, relacionados com o jogo, no serviço de mensagens “QQ”, e avisou que o número está a aumentar, escreve o China News Service. Estes grupos foram já bloqueados pela empresa, assim como as pesquisas relacionadas com “Baleia Azul”, para evitar a sua difusão.

 

PSIQUIATRAS

 

«SENSACIONALISMO» PODE FAZER AUMENTAR CASOS

 

A Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência afirmou, em comunicado, assistir «com preocupação» à forma como o fenómeno “Baleia Azul” tem sido «tratado nos meios de comunicação social, com recurso a conteúdos sensacionalistas (que chegam a incluir imagens de cortes)». Segundo os psiquiatras, o tratamento noticioso que está a ser dado a comportamentos autolesivos em jovens está «em clara contradição com as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde]».

 

CORES

 

COMBATE À VÍTIMA ENVOLVE OUTRAS BALEIAS A fim de combater o jogo “Baleia Azul”, criou-se já uma aplicação brasileira denominada “Baleia Rosa”, pediatras em Orlando (EUA) criaram a “Baleia Verde” e existe ainda a “Preguiça Azul”, natural do Brasil. Os três funcionam também através de 50 tarefas e, se os envolvidos não as concretizarem, existem consequências. A “Baleia Rosa” pretende levar os jovens a elevar a autoestima dos mais novos e tentar mostrar que a Internet também serve para praticar o bem. A “Baleia Verde” pretende educar os mais jovens e a “Preguiça Azul” também, através do humor.

 

In “Jornal da Madeira