Em Portugal, foram notificados 242 casos de hepatite A à Direcção-Geral da Saúde. Até ao final do ano, chegam mais 53 mil vacinas.

 

Com um stock de vacinas que atingirá as 64 mil unidades até ao final deste ano, as autoridades de saúde vão apostar na prevenção e, nomeadamente, no reforço da vacinação contra a hepatite A antes dos festivais de Verão que se aproximam e antes dos encontros da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) marcados para Lisboa e Madrid.

 

Numa altura em que estão notificados 242 casos de hepatite A em Portugal — 93% dos quais são homens e quase 80% residem na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) —, a responsável pelo programa das Hepatites Virais da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Isabel Aldir, anunciou nesta segunda-feira, em conferência de imprensa, a intenção de reforçar a vacinação antes dos festivais de Verão, do Arraial Pride de Lisboa (24 de Junho) e do World Pride marcado para Madrid (de 23 de Junho a 2 de Julho).

 

Distribuição de vacinas da hepatite A pelas farmácias está suspensa

 

Sem especificar detalhes, o director-geral da Saúde, Francisco George, adiantou que as autoridades estão a preparar um “pacote de protecção”, de maneira a prevenir eventuais infecções a tempo dos festivais que se multiplicam no Verão. Um "pacote" que vai incluir material informativo sobre prevenção das hepatites A e B, e de outras doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente informação sobre medidas de higiene pessoal, com particular ênfase na lavagem frequente das mãos, da região genital e perianal, antes e depois da relação sexual.

 

Depois da polémica sobre a falta de vacinas contra a hepatite A nas farmácias quando foi conhecido o surto de hepatite A no final de Março, os responsáveis asseguram que Portugal vai ter, de forma gradual e até ao fim do ano, mais 53 mil doses para somar às cerca de 11 mil que ainda estão disponíveis — foram entretanto administradas cerca de 1200, a um ritmo médio de 48 por dia. Serão cerca de 64 mil vacinas no total, uma quantidade que representa sensivelmente o dobro da que é disponibilizada em cada ano em Portugal e que as autoridades acreditam ser suficiente para combater o surto da infecção que está a ocorrer também noutros países europeus, em alguns já desde o Verão passado.

 

A maior parte das vacinas foi administrada na região de LVT e cerca de 60% a homens que têm sexo com homens, sendo as outras 38% foram dadas a viajantes e apenas 2% a contactos próximos (íntimos ou familiares) de doentes com hepatite A. Uma parte significativa das pessoas foi vacinada com a ajuda de uma unidade móvel (uma ambulância do INEM) que, de noite e de madrugada, inocolou a população de maior risco.

 

Com o reforço do stock de vacinas, a partir do próximo mês as farmácias vão poder voltar a ter à venda doses destes fármacos. Os viajantes que tencionem ir para zonas onde a hepatite A é endémica têm sido obrigados a apresentar, através do médico, pedidos às autoridades de saúde. Destes pedidos, cerca de 40% foram recusados, foi agora revelado.

 

Administradas de forma gratuita, as vacinas têm sido dadas sobretudo a homens que têm sexo com homens de forma desprotegida e podem ter comportamentos de risco, e ainda a contactos "íntimos" e familiares de doentes com hepatite A.

 

Uma infecção aguda causada por um vírus, a hepatite A é uma doença curável, raramente fatal, mas pode ser perigosa para, por exemplo, pessoas com doenças crónicas do fígado. A via de transmissão é fecal-oral. O vírus é expelido nas fezes de uma pessoa infectada e chega à boca de outra pessoa que é então contaminada. A transmissão pode acontecer directamente através de sexo oro-anal, mas também através de mãos que tocam em fezes e são mal lavadas ou de legumes ou água contaminados com fezes.

 

A infecção pode ser assintomática, ou provocar uma doença aguda associada a sintomas como febre, mal-estar, icterícia, anorexia, náuseas, vómitos e dor abdominal.

 

ALEXANDRA CAMPOS

 

In “Público”