Por mais que as autoridades de saúde antecipem os riscos e os danos, nada exclui o dever de cada cidadão se precaver e praticar sexo seguro.

 

Actualmente, está a ocorrer em Portugal um surto de Hepatite A, cuja magnitude ainda não está completamente definida. Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), o mesmo terá surgido no contexto de determinadas práticas sexuais de risco, nomeadamente, sexo anal (com ou sem preservativo) e o sexo oro-anal. São ainda considerados pela DGS os seguintes fatores associados: o sexo anónimo, especialmente se com múltiplos parceiros, e o sexo praticado em saunas e clubes, entre outros locais. Este tipo de práticas sexuais é independente da orientação sexual.

 

Este surto, em termos de saúde pública, alerta-nos para algumas questões. Por mais que as autoridades de saúde antecipem os riscos e os danos, e, neste caso em particular, garantam um armazenamento de vacinas adequado às necessidades de um surto de Hepatite A, nada exclui o dever de cada cidadão se precaver e praticar sexo seguro. Estas práticas sexuais acarretam o risco de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (IST), para além do risco de infecção pelo vírus da Hepatite A.

 

E sexo seguro é proteger-se a si mesmo e aos outros relativamente à transmissão de doenças infecciosas, nomeadamente, pelo uso consistente do preservativo nas práticas de sexo anal ou vaginal e minimização de danos no contexto de práticas de risco cumulativo (ex: “douching”, “fisting” ou uso de drogas). Por outro lado, é igualmente importante a realização do rastreio de ISTs, como a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), Hepatite B, Hepatite C, sífilis ou outras, de acordo com a avaliação do risco de exposição às mesmas. Em nenhuma ocasião deve a existência de uma vacina ou profilaxia farmacológica eficaz levar a uma despreocupação em relação às medidas de protecção adequadas, nomeadamente, a prática de sexo seguro.

 

Sendo assim, para além da vacinação contra a Hepatite A, e da disseminação de práticas de higiene pessoal antes e depois das relações sexuais (lavando as mãos, a região genital e perianal), que também ajudam a prevenir a transmissão deste vírus, é fundamental reforçar as intervenções existentes de promoção de sexo seguro. Os melhores agentes para este reforço preventivo são as organizações não-governamentais que já estão no terreno com projectos financiados pelo Ministério da Saúde, de base comunitária, de aconselhamento sexual e rastreio anónimo, confidencial, do VIH e outras IST. Os autores escrevem segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

 

In “Público”