A maior parte dos abortos espontâneos não requer internamento. Mas, em 2016, o hospital registou 106 internamentos devido a perdas gestacionais. Não há estatísticas reais sobre o número de abortos espontâneos, porque muitos passam despercebidos.

 

 

A maior parte dos abortos espontâneos não requer internamento. Ou ocorrem de forma natural, «como se de uma menstruação se tratasse», ou o tratamento para a expulsão do produto da conceção inviável é feito em ambulatório, através de medicação. No entanto, há casos mais graves, em que a perda gestacional ocorre numa fase mais tardia, entre as 10 e 12 semanas ou mais, ou ainda quando se trata de um aborto retido, em que é necessário o internamento.

 

A este respeito, e de acordo com os dados fornecidos ao JM pela obstetra Helena Pereira, do Serviço de Obstetrícia do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM), no ano passado ficaram internadas no Hospital Dr. Nélio Mendonça 106 mulheres. Nos casos registados de internamento, a especialista revelou que em 2014, foram 98 mulheres e, em 2015, foram 104 os casos. A idade média das pacientes rondava os 33 anos.

 

Helena Pereira explicou que, nestes casos, regra geral a média de internamento é entre dois a quatro dias, sendo que a preocupação é cuidar do estado das mulheres que sofreram um aborto, através de medicação. «Quanto menos interferirmos com instrumentos no útero melhor, não deixamos cicatrizes, nem incompetências cervicais, como traumatismos do colo do útero, por exemplo, para não prejudicar gravidezes futuras», esclareceu a assistente-sénior do serviço em causa. Só em última instância é que os médicos passam para procedimentos como a laminária ou a curetagem, cuja recuperação é mais morosa e que pode ser traumatizante.

 

Por outro lado, Helena Pereira, esclareceu que não existe uma estatística correta sobre o número de abortos espontâneos na Região, porque muitos são precoces, em que cerca de 15 por cento «passam despercebidos», por outro lado podem ser acompanhados nos consultórios médicos, que passam a medicação para o processo de expulsão ser feito no domicílio, por exemplo.

 

Dos dados disponibilizados pela obstetra, as ocorrências de abortos espontâneos são, em média a uma de 26 mulheres nas mais jovens, com idades entre os 18 e os 20 anos. Já em mulheres com idade mais tardia, perto dos 40 anos, uma em cada dez pode sofrer um aborto. «À medida que a mulher vai envelhecendo, o risco de ter anomalias cromossómicas nos produtos de conceção aumenta».

 

Noutro âmbito, cerca de dois a cinco por cento das mulheres sofrem abortos de repetição, acima de três abortos. «Há várias causas para essa situação e temos de estudá-las, procurar a causa, porque não é comum». Daí que, desde finais da década. de 90, inícios de 2000, o Serviço de Obstetrícia do SESARAM tem vindo a estudar os casos de perdas de gravidez recorrentes ou “Recurrent Preagnancy Lost (RPL). Assim, explicou a especialista em casos de perdas fetais ou de repetição, estas podem ocorrer em qualquer dos trimestres, embora a maioria ocorra no primeiro trimestre. A médica, que já se dedica a este estudo há vários anos, e que inclusivamente já criou consultas na área das trombofilias (propensão para a formação de coágulos de sangue em vasos sanguíneos) e das doenças autoimunes - que são das principais causas de aborto -, refere que na consulta de estudo da morte fetal, é feito o estudo completo das mulheres que sofrem de perdas gestacionais de repetição, no sentido de procurar e combater as causas, de modo a procurar tornar possível a gravidez até ao final da gestação.

 

CONSULTA DO PRIMEIRO TRIMESTRE NO HOSPITAL

 

Para além do serviço de urgência na Obstetrícia, para onde são logo encaminhadas as mulheres com ameaças de aborto, o Hospital Dr. Nélio Mendonça dispõe, desde janeiro, da consulta da patologia do primeiro trimestre, para acompanhar as grávidas que estão com alguns riscos de perda gestacional e as que perderam o produto da conceção e que durante e após o processo de limpeza do útero através de medicação, necessitam de ser monitorizadas. «Temos uma consulta para seguir essas senhoras caso haja restos ovulares, em que, por exemplo, fazemos nova ecografia e acompanhamos a evolução do caso. Ou seja, é tudo feito em ambulatório mas sempre acompanhado pelo hospital», explicou Helena Pereira. A consulta existe durante a semana, entre as 8 e as 20 horas. «É, portanto, destinada às mulheres que têm ameaça de aborto ou que abortaram e têm de ser vigiadas».

 

Paula Abreu

 

Fonte: Jornal da Madeira