Um estudo divulgado esta quinta-feira reforça as conclusões de outro realizado em 2015: 66% dos cancros surgem como consequência de mutações genéticas aleatórias.

 

 

Cerca de dois terços dos cancros são causados por erros aleatórios no ADN que ocorrem quando as células normais fazem cópias de si mesmas. Ou seja, o processo de replicação acontece por azar. Esta é uma descoberta que pode explicar por que é que indivíduos saudáveis, que fazem de tudo para evitar o cancro, são diagnosticados com a doença.

 

Estas novas conclusões reforçam e são baseadas em estudos realizados em 60 países do mundo, sendo que um deles foi publicado em 2015 na revista Science e chegava a conclusões semelhantes. Ambos os estudos foram realizados pelos investigadores da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, nos EUA. Neste caso, concluía-se que os erros aleatórios no ADN representavam um risco muito maior do que o anteriormente pensado. O trabalho, liderado então por Bert Vogelstein e o matemático Cristian Tomasseti, causou alguma polémica, sendo contestado pela comunidade de especialistas, que defende que o ambiente e os factores externos são as maiores causas para o cancro.

 

 “Estes cancros vão aparecer independentemente do quão perfeito for o ambiente”, referiu Vogelstein, geneticista de cancro e responsável também pela investigação divulgada esta quinta-feira.

 

Tomasetti, que também esteve envolvido no novo estudo que reforça as conclusões do primeiro, refere que, apesar de a maioria das pessoas conhecer os riscos hereditários e de ambiente para o cancro, tais como fumar, poucos levam em conta os riscos literalmente aleatórios sempre que uma célula reproduz o seu ADN e se transforma em duas novas células. Estes erros são “uma fonte potente de mutações cancerígenas que historicamente têm sido subvalorizadas”, afirmou Tomasetti, em comunicado.

 

O novo trabalho tem como principal novidade a quantificação da porção de cancros originados por estes “azares”. Para chegar a estes resultados, a equipa de investigadores desenvolveu um modelo matemático utilizando os dados sequenciais do ADN do Atlas do Genoma Cancerígeno e os dados incluídos na base do centro de investigação do cancro do Reino Unido. Depois a equipa verificou as mutações específicas que conduziram a um anormal crescimento celular em 32 tipos diferentes de cancro.

 

Apesar de existirem variações em tipos específicos de cancros, os investigadores concluíram, de forma geral, que 66% das mutações nesses cancros foram resultado dos erros de reprodução, 29% foram causados pelo estilo de vida e ambiente, e 5% por factores hereditários.

 

Embora a maioria destas mutações não tenham forma de prevenção, os investigadores reforçam que a detecção e o tratamento precoce pode prevenir muitas mortes provocadas pela doença, independentemente da sua causa.

 

Além disso, e apesar de a maioria dos cancros surgirem por azar, a equipa responsável pela investigação apela a que as pessoas não ignorem os avisos de saúde pública, tais como manter um peso e alimentação saudáveis e evitar factores de risco como fumar.

 

Fonte: Público