Portugal passou do 24.ª para o 15.º lugar na tabela dos países que melhor controlam o tabagismo, mas há que ter cuidado.

É preciso avançar, até 2020, com a proibição do consumo de tabaco dentro de todos os carros em que viajam crianças e apostar nos maços de tabaco “neutros” (sem marcas), recomendam os responsáveis da Associação das Ligas Europeias contra o Cancro, que nesta quinta-feira apresentaram no Porto os dados mais recentes sobre a eficácia das políticas de combate ao tabagismo em mais de três dezenas de países europeus.

 

 

A proibição de fumar dentro dos carros com crianças chegou a ser equacionada pelo anterior ministro da Saúde, Paulo Macedo, mas não se concretizou.

Portugal ficou melhor do que era habitual na fotografia: passou da 24.ª para a 15.ª posição na "Escala de Controlo de Tabaco", uma espécie de ranking que, de três em três anos, mede a implementação das políticas de controlo do tabagismo em 35 países europeus. No topo da lista de 2016 figuram o Reino Unido, a Irlanda e a Islândia, anunciou Luk Joossens, presidente da associação, na abertura da sétima edição da Conferência Europeia de Tabaco e Saúde.

 “É um resultado positivo [para Portugal], mas há que ter cuidado”, avisou Joossens. Nos piores lugares da tabela estão a Áustria, a Alemanha e o Luxemburgo, por serem ainda pouco actuantes no combate ao tabagismo (Luxemburgo e Alemanha aparecem ambos em 33.º lugar porque obtiveram uma pontuação igual na avaliação feita). São vários os critérios levados em conta para esta classificação, nomeadamente o preço dos cigarros, as proibições de fumar em locais públicos, as campanhas de informação e os tratamentos disponíveis para ajudar os fumadores a abandonar o vício.

 

O que os dados revelados no relatório desta associação europeia indicam é que as políticas anti-tabágicas estão a evoluir de forma sustentada na Europa: desde 2013, por exemplo, nove países proibiram o fumo dentro dos carros em que viajam crianças (Irlanda, Reino Unido, França, Finlândia, Itália, Malta, Chipre, Lituânia e Eslovénia) e seis países estão a adoptar as embalagens neutras, só com imagens chocantes, sem marcas (Reino Unido, França, Irlanda, Hungria, Noruega e Eslovénia).

 “São óptimas notícias. Portugal passou a ‘verde’ neste novo ranking, mas é um ´verde´ com cautela e temos que continuar com os nossos esforços para não voltarmos ao ‘vermelho’", comentou o presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro, Vítor Veloso, que lamenta que não haja “inspecção” ao cumprimento da legislação de controlo do tabagismo em Portugal.

O tabaco é “um problema de saúde prioritário”, reconheceu o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que voltou a anunciar para o segundo semestre deste ano o reforço da Linha de Saúde 24, que passará a dispor de maior capacidade para apoio à cessação tabágica. “Em Portugal cerca de 30 pessoas morrem por dia [devido ao consumo de tabaco]”, recordou o governante, que chamou a atenção para as estratégias da indústria tabaqueira, "cada vez mais sofisticadas e difíceis de controlar".

Confessando-se “chocado” com o facto de, na União Europeia, “quase um em cada quatro adolescentes de 13 anos” que frequentam a escola já terem fumado, o comissário europeu da saúde e segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, defendeu que os cigarros electrónicos não podem transformar-se numa “porta de entrada para novos fumadores”.

“Temos que seguir de perto os desenvolvimentos científicos e de mercado dos cigarros electrónicos”, enfatizou o comissário europeu, numa altura em que em Portugal está a ser avaliada na Assembleia da República uma proposta de alteração da lei do tabaco que prevê, justamente, a equiparação destes cigarros e dos novos produtos de tabaco sem combustão aos cigarros tradicionais. Uma matéria complexa e que está a dividir os deputados.

Com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa remetido ao silêncio na conferência, a rainha de Espanha, Letizia Ortiz, na qualidade de presidente honorária da Associação Espanhola contra o Cancro, lembrou, num discurso veemente, que o tabaco é o único produto “legal à venda” que pode provocar a morte de "até metade" dos seus consumidores regulares. Letizia deixou mesmo alguns conselhos. "Não fumar, evitar o álcool e as comidas processadas, e praticar 30 minutos de exercício por dia, previne oito em cada 10 cancros, doenças cardiovasculares e diabetes."

ALEXANDRA CAMPOS

 

Fonte: Público