Chama-se EbolaID, é gratuita e acessível pela Internet. Trata-se de uma base de dados com informação detalhada sobre o genoma do vírus do ébola e que pode ser útil para investigação da doença ou desenvolvimento de fármacos.

 

A base de dados sobre o vírus do ébola (EdolaID) foi desenvolvida por investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e está online. Aqui estão acessíveis 57 sequências curtas de ADN e ARN, descritas em 17 estudos publicados entre 1999 e 2014, que servem para detectar a doença. Esta plataforma pode ajudar a desenvolver novos e mais eficazes métodos de detecção e novos fármacos. 

“É a primeira base de dados do mundo que combina informações sobre a diversidade genética do ébola com as moléculas usadas no tratamento e detecção do vírus”, anuncia o biólogo Filipe Pereira, um dos investigadores do CIIMAR que criou a EbolaID, apresentada publicamente pela primeira vez num artigo na revista PLOS Neglected Tropical Diseases. Na morada ebolaid.portugene.com, há alguns meses, encontram-se todas as moléculas (conhecidas como oligonucleótidos) que são desenvolvidas em laboratório e usadas para a detecção da doença. Segundo explica, ao longo de vários anos “cada empresa ou grupo de investigação foi fazendo as suas moléculas, mas nunca ninguém tinha juntado isto tudo”. 

Estas moléculas funcionam como sondas para detectar o vírus. São sequências curtas de ADN e ARN idênticas ao genoma do vírus do ébola que se ligam ao genoma, permitindo o diagnóstico. São como “chaves” feitas à medida de portas específicas no genoma do vírus. A EbolaID reúne um molho de 57 destas chaves usadas entre 1999 e 2014 por empresas farmacêuticas ou investigadores para identificar o vírus em diferentes locais do mundo e em diferentes alturas. 

Os investigadores do CIIMAR também tiveram em conta a diversidade genética deste vírus. Ele muda de tal forma que muitas vezes pode existir o risco de ser usada uma chave que não funciona, porque não encontra a porta certa, mas a infecção está lá na mesma. O resultado pode ser um falso negativo e os investigadores do CIIMAR quiseram fornecer uma ferramenta para minimizar este risco. Assim, esta base de dados também inclui uma análise comparativa de mais de 200 genomas completos do vírus do ébola, muitos deles sequenciados após a epidemia em 2014-2015 que terá infectado em África mais de 28 mil pessoas e provocado a morte a mais de 11 mil. 

Os superdisseminadores 

Desta forma, os investigadores do CIIMAR identificam algumas das regiões mais conservadas do vírus e que, por isso, têm mais probabilidades de sucesso de funcionar para um diagnóstico de infecção de novas estirpes do vírus que possam surgir. Os cientistas que usarem esta base de dados podem olhar para estas regiões ou alinhamentos como “portas” quase garantidas. 

 “Testámos as moléculas que existem para identificar aquelas que se ligam às regiões mais conservadas do genoma do vírus”, diz o biólogo. Em 2014, lembra, “foram sequenciados muitos genomas do ébola em diferentes sítios”, que, mais uma vez, comprovaram a sua diversidade genética e mostraram também o risco de estarmos a usar métodos de diagnóstico que já estavam desajustados. 

Aliás, muito do que aconteceu da epidemia em 2014-2015 ainda está por esclarecer. Um artigo publicado na edição desta semana da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences esclarece, por exemplo, que naquela altura se observou um fenómeno chamado “superdisseminação”. Segundo explicam, durante a epidemia foram identificados alguns indivíduos infectados que terão transmitido a doença a um elevado número de pessoas. Estes “superdisseminadores”, estimados em 3% dos casos, terão sido responsáveis pela infecção de cerca de 61% de todos os casos registados na epidemia de 2014-2015. 

Voltando à base de dados, Filipe Pereira nota que as sondas moleculares não servem só para permitir a detecção do vírus; também são usadas para se ligarem ao genoma do vírus de forma a inibir sua a replicação, fazendo assim com que sejam importantes para o desenvolvimento de fármacos. “Espera-se que esta plataforma contribua para o desenvolvimento de novos métodos de detecção e combate a um dos vírus mais mortais para o ser humano”, conclui. 

A EbolaID ainda vai continuar a dar trabalho exigindo uma actualização contínua, mas o biólogo e geneticista do CIIMAR espera conseguir usar a mesma estratégia para criar outras bases de dados sobre outros vírus que afectam os humanos. Hepatite, VIH ou Zika são alguns dos possíveis candidatos.

 

ANDREA CUNHA FREITAS 

Fonte: Público