São 6h30 quando acorda e o 1º contato do dia é feito com o seu telemóvel, trocando mensagens, fotos, vídeos ou emojis nos chats mais “fixes” para a sua idade.

 

 

Prepara-se rapidamente - tendo em conta o tempo extra despendido a arranjar os cabelos, a pôr perfume ou a contemplar–se ao espelho para ter a certeza que está “top” - sente-se o seu desassossego em sair de casa com o pretexto de chegar à escola meia hora antes do toque de entrada, para “estar com os amigos”. Segue-se a rotina do dia: aulas, atividades extra curriculares, estudo, tpc´s, música, desporto e ainda mais…tudo aquilo que se foi adotando como importante para um desenvolvimento equilibrado. A entrada na adolescência faz-se acompanhar de alguma “turbulência”, período fortemente marcado por mudanças internas (cognitivas, emocionais e da personalidade), externas (físicas) e sociais (eu e o mundo) que trazem o desassossego positivo, que inquieta com as inseguranças da idade; que faz ver o mundo de outra forma, onde a busca de novas sensações, de correr riscos, ou fazer novas experiências estão fortemente presentes, permitindo uma exploração de si próprio através das vivências e das relações com os outros, valorizando sobretudo os seus pares (amigos). Vivendo o imediatismo do aqui e agora, é forte o desejo de querer experimentar tudo o mais cedo possível, como se não houvesse amanhã.

 

E com tudo isto, também os pais (ou outros cuidadores) vivem em desassossego com a integração dos filhos na sociedade, preocupados com os perigos que terão de enfrentar, os comportamentos de risco que podem adotar e as consequências para a sua vida futura. Nos anos 90, no campo dos comportamentos de risco, a principal preocupação dos pais era o consumo de drogas. Mudaram-se os tempos e hoje os desassossegos não são menores, pois outras problemáticas foram tornadas evidentes: violência-bullying (no namoro ou entre pares), vivência da sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis, desmotivação em relação ao futuro, desemprego juvenil, entre outras.

 

Por sua vez, e porque todos integramos este sistema, também a sociedade está em desassossego com as problemáticas que afetam a juventude, pois cada um é único na construção do seu projeto de vida que, por vezes, carece de oportunidades e meios orientados a cada jovem, em particular, e não de respostas generalizadas e iguais para todos.

 

No relatório do recente Estudo Be Positive (The Positive Development Cross National Project, 2016), que envolve mais de 20 países na Europa, coordenado nacionalmente pela Professora Margarida Gaspar de Matos, os resultados reforçam a necessidade de fortalecer os jovens e de apoiar o seu envolvimento activo na sociedade, como forma de identificar e promover recursos pessoais e sociais e identificar/encontrar soluções contextualizadas para os seus problemas de vida. A melhor maneira de evitar que os jovens tenham problemas é ajudá-los a alcançar o seu pleno potencial. Para serem bem sucedidos, os jovens precisam de experimentar vários apoios e oportunidades. As comunidades precisam de ativar e construir a capacidade de apoiar o desenvolvimento positivo da juventude. Os jovens devem ser vistos como parceiros para serem envolvidos e desenvolvidos, e não apenas como problemas a serem corrigidos.

 

Para valer a pena viver este desassossego, para que os adolescentes estejam mais prevenidos em relação aos comportamentos de risco, precisam de estabelecer ligações a pessoas de referência na construção da sua identidade e de serem apoiados para encontrarem formas de “crescer saudável, feliz e positivo” na família, na escola e em todos os cenários das suas vidas.

 

ALÍCIA FREITAS

 

Psicóloga

 

Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais, IP-RAM

 

Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências

 

 

 

Fonte: Jornal da Madeira