Venda de embalagens de produtos e medicamentos para deixar de fumar aumentou 30% no último ano. Mas apenas 16% destes produtos eram fármacos sujeitos a receita médica.

 

Gomas para mascar ou pastilhas, pensos transdérmicos ou mesmo comprimidos. As alternativas no mercado para quem pretende deixar de fumar com a ajuda de produtos que subsituem a nicotina são muitas – e cada vez mais procuradas. No período de um ano, a venda de embalagens deste tipo de medicamentos cresceu quase 30%. Entre Novembro de 2014 e Outubro de 2015 tinham sido vendidas 158.341 embalagens e o valor disparou para 203.220 entre Novembro de 2015 e Outubro deste ano. Em termos de valor, representam já uma despesa de mais de 15 mil euros por dia.

 

De acordo com os mesmos dados, disponibilizados ao PÚBLICO pela consultora QuintilesIMS, este aumento do consumo de embalagens foi acompanhado de perto pelo valor representado por estes produtos, que subiu 20%. Entre 2014 e 2015 os portugueses tinham gasto 4,6 milhões de euros para deixar de fumar e, entre o ano passado e este ano, gastaram mais um milhão de euros – com o total a subir para 5,6 milhões.

 

Isto significa que todos os dias são gastos mais de 15.300 euros com os produtos que visam ajudar a reduzir a dependência da nicotina e que têm formas diferentes de actuar. As gomas ou pastilhas, por exemplo, usam-se nos momentos de impulso para fumar e actuam quase no imediato. Já os sistemas transdérmicos duram normalmente 24 horas e vão libertando gradualmente as substâncias.

 

Apesar do aumento das vendas, o consumo de medicamentos sujeitos a receita médica continua a representar apenas uma parte muito diminuta do total de embalagens consumidas. Há um ano representavam 18% e neste último ano o peso caiu para 16%, pelo que a quota de mercado dos medicamentos não sujeitos a receita médica acabou por sair reforçada. No entanto, em valor, os medicamentos com receita, ao serem em geral mais dispendiosos, representam 29% do total (antes o valor ficava nos 31%).

 

Durante as discussões da última revisão da lei do tabaco, há cerca de um ano, o anterior Governo de Pedro Passos Coelho chegou a colocar em cima da mesa a hipótese de vir a comparticipar de alguma forma os medicamentos e produtos que ajudam na cessação tabágica. O tema acabou por transitar para a actual tutela, mas para já foi abandonado, por faltarem alguns estudos sobre a eficácia deste tipo de medida e dos próprios produtos.

 

Por isso, em termos de apoio, o Ministério da Saúde acabou por avançar há seis meses apenas com um serviço na Linha Saúde 24 (808 24 24 24) que encaminha para as unidades de saúde os contactos dos utentes que telefonam a pedir ajuda para deixar de fumar. O serviço arrancou a 20 de Maio e, até 31 de Outubro, atendeu 1630 chamadas para cessação tabágica. Os homens com idades entre os 35 e os 69 anos e a residirem na zona de Lisboa e Vale do Tejo foram os que mais recorreram à linha. Os dados do último Inquérito Nacional de Saúde, relativo a 2014, estimam que existam 1,16 milhões de homens fumadores em Portugal e 600 mil fumadoras. Apesar disso, os dados da Direcção-Geral da Saúde publicados em Março deste ano indicam que, entre 2005/2006 e 2014, o número de fumadores no país caiu menos de um ponto percentual.

 

ROMANA BORJA-SANTOS

 

In “Público”