Números de suicídios de jovens variam muito de ano para ano. Especialista pede cautela na análise dos dados.

 

A taxa de mortalidade por suicídio de jovens (entre os 15 e os 24 anos) oscila muito de ano para ano, mas em 2017 atingiu o valor mais alto da década, igual ao registado em 2009. Quarenta e seis jovens suicidaram-se, mais 15 do quem 2016, num ano em que os óbitos por este motivo aumentaram também na população em geral (1061, no total).

 

Na faixa etária até aos 24 anos, a taxa de mortalidade por “lesões autoprovocadas intencionalmente” foi em 2017 de 4,1 por cada 100 mil habitantes, igual à registada oito anos antes, adianta o Jornal de Notícias esta quarta-feira, citando dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Mas os especialistas pedem cautela na análise e na leitura destes números, uma vez que são números pequenos e variam substancialmente de ano para ano.

 

Olhando para os dados do INE relativos à primeira década deste século, percebe-se o valor mais alto foi registado em 2002, ano em que a taxa de mortalidade por suicídio em jovens entre os 15 e os 24 anos foi superior ainda à observada em 2017 -  4,3 óbitos por 100 mil habitantes.  De resto, há anos em que esta taxa oscila entre os 2,1 por 100 mil habitantes, os 3 por 100 mil habitantes e os mais de 4.

 

 “Temos que ser muito cuidadosos. Estes dados só se podem avaliar em grandes séries, só assim se podem observar tendências. De ano para ano, os números variam muito”, disse ao PÚBLICO Fausto Amaro, sociólogo que preside à Sociedade Portuguesa de Suicidologia. Ainda assim, o especialista aproveita para alertar para a urgência de se investir na melhoria da resposta à população na área da saúde mental. Até porque, sublinha, o suicídio é “uma morte evitável”.

 

Lamentando a falta de respostas nesta área, porque uma das formas de prevenção do suicídio passa por intervir precocemente e dar alternativas, o sociólogo explica que os casos de suicídio ocorrem devido “a múltiplos factores, psicológicos, sociológicos, culturais”. Nos jovens “pensa-se que [este fenómeno] resulte não só da falta de respostas - os nossos serviços de saúde mental destinados a crianças e adolescentes são escassos – mas também da falta de integração, nomeadamente nas escolas”, especifica Fausto Amaro.

 

À semelhança do director do Programa Nacional para a Saúde Mental, o sociólogo destaca a necessidade de investir em equipas comunitárias de saúde mental, porque há um problema de acesso e já se percebeu, nomeadamente na avaliação da resposta às vítimas dos incêndios de Pedrógão, que este tipo equipas multidisciplinares funcionam muito bem.

 

O suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens dos 15 aos 29 anos, a seguir aos acidentes de viação, sublinhou a Organização Mundial de Saúde (OMS) num relatório divulgado em Setembro. A OMS recordou, então, que a taxa de suicídio é mais elevada nos países de maiores rendimentos e instou os governos a cumprir o compromisso de estabelecer planos para a prevenção deste fenómeno.

 

Apesar de o número de países com estratégias nacionais de prevenção do suicídio ter aumentado nos últimos cinco anos, os 38 onde essa política existe ainda são “muito poucos”, concluiu a OMS. A informação relativa a Portugal faz apenas referência ao Plano de Prevenção do Suicídio (2013-2017) que foi aprovado em 2013.

 

 

 

Linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal

 

SOS Voz Amiga

 

(entre as 16 e as 24h00)

 

21 354 45 45

 

91 280 26 69

 

96 352 46 60

 

Telefone da Amizade

 

22 832 35 35

 

Escutar - Voz de Apoio – Gaia

 

22 550 60 70

 

SOS Estudante

 

(20h00 à 1h00)

 

969 554 545

 

Vozes Amigas de Esperança

 

(20h00 às 23h00)

 

22 208 07 07

 

Centro Internet Segura

 

800 21 90 90

 

Conversa Amiga

 

808 237 327

 

210 027 159

 

Telefone da Esperança

 

222 030 707

 

Alexandra Campos

 

In “Público”