Manuel Antunes operou milhares de corações e está hoje na Região

Reza a história que foram milhares os corações abertos pelas mãos de Manuel Antunes. O cirurgião está na Região e trouxe na bagagem um currículo marcado pelos serviços prestados enquanto diretor no Centro de Cirurgia Cardiotorácia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, edifício que hoje enverga o seu nome.

O professor jubilado da Universidade Coimbra estará esta manhã no Centro de Estudos de História do Atlântico, para falar sobre erros médicos. Não para julgá-los - pois esse é um papel que caberá aos restantes oradores, os especialistas em Direito da Sérvulo, a sociedade que organizou o simpósio em parceria com Nuno Abreu –, mas sim para esclarecer a sua definição.

 

Questionado pelo Jornal, Manuel Antunes não relaciona a maior visibilidade que tem sido dada a este assunto com um aumento de erros médicos. O especialista acredita que o cidadão está cada vez mais consciente destas situações e, por isso, a determinada altura, irá fazer valer os seus direitos, aumentando assim o número de processos em tribunais.

 

 “Muitos dos erros que acontecem em medicina não são causados nem por dolo, nem por incompetência e essa é que é a verdadeira definição de erro médico”, reitera. Basta a cmunicação deficiente de uma equipa, ou a “má interpretação de uma indicação médica, ou a má leitura de qualquer coisa que não esteja bem escrita” para dar origem a um erro médico, acrescenta.

 

Outras vezes, podem ocorrer mesmo por razões anatómicas. “Se passa uma artéria que é anormal numa zona onde o médico está a intervir e ele não tiver conhecimento dessa situação, naturalmente que ele não pode ser considerado como tendo participado num erro médico”. Segundo o cirurgião, há uma lista que deve ser lida no início de uma intervenção cirúrgica, para evitar certos tipos de erros.

 

Em outras vezes, são também os próprios doentes que causam o erro, ao não fornecerem aos médicos uma informação completa sobre a medicação que estão a tomar, sublinha Manuel Antunes.

 

O cirurgião assegura que nunca esteve envolvido em qualquer situação e só foi chamado a tribunal por uma situação que descreveu como “absolutamente ridícula”.

 

Questionado sobre se existe um 'pacto de silêncio' entre os médicos perante situações de negligência, o cirurgião considera natural que “os elementos do mesmo grupo profissional se protejam uns aos outros”. Frisa, no entanto, que “o médico tem a obrigação de ser chamado a depor” e não apenas “defender o seu colega, mas os direitos do doente”.

 

Assim sendo, Manuel Antunes recomenda aos doentes que se sentem vítimas de erro médico a denunciar a situação, mas alerta que se o veredito não for o mais favorável, não devem argumentar que foram “prejudicados pelo tal silêncio”, pois isso frequentemente não acontece.

 

Cláudia Ornelas

In "JM-Madeira"