Recentemente chegou-me às mãos o artigo de revisão científica da autoria do Dr. Manuel Isorna Folgar, “Consumo Combinado de Tabaco y Canábis: una revision de los factores de risco familiares” que veio confirmar o papel fundamental que as famílias podem desenvolver junto dos filhos, no seu dia a dia, de uma forma que pode ser tão natural como o são todas as rotinas das famílias. Para tal basta estarmos atentos e comprometidos. Estar conscientes da importância que temos enquanto pais é fundamental.

Disciplina Familiar

 

​O controle e acompanhamento paterno foi associado à etiologia do abuso de drogas na adolescência. A gestão familiar pouco ativa e efetiva (normas, disciplina, sistema de recompensas e de controle), a falta de envolvimento materno, a ausência ou inconsistência de disciplina parental (muito autoritarismo, disciplina do deixar andar, pouca imparcialidade) e baixas aspirações dos pais sobre a educação dos filhos, podem fazer antever a sua iniciação no uso de tabaco e canábis (McGee et al., 2000, Kosterman, Hawkins, Guo, Catalano e Abbott, 2000).

 

Relações afetivas e comunicação

 

Afeto/vínculo afetivo paterno filial

 

As relações familiares baseadas num bom vínculo afetivo entre pais e filhos estão corelacionadas com uma menor probabilidade de que os jovens apresentem problemas de comportamento e se iniciem no consumo de substâncias (Tasic, Budjanovac e Mejovsec, 1997).

 

Comunicação familiar

 

Relativamente ao consumo de tabaco e canábis, a probabilidade que os jovens manifestem esse comportamento diminui à medida que aumenta a sua participação nas decisões familiares e o contrário também acontece (Inglés et al., 2007).

 

Conflito familiar

 

De um modo geral sustenta-se que a educação das crianças em famílias com alto grau de conflito é um fator de risco importante quer para o desenvolvimento de perturbações do comportamento em geral (Bragado, Bersabé e Carrasco, 1999) quer para o consumo de drogas (Martinez, Sanz e Cosgaya, 2006).

 

Altos níveis de discordância parental (discussões, agressões), tal como um mau clima familiar são duas variáveis muito relacionadas com o consumo de tabaco e canábis por parte dos filhos (McGee et al., 2000).

 

Atitudes e comportamentos familiares face ao consumo de tabaco e canábis

 

O uso de drogas pelos pais foi frequentemente associado à iniciação do consumo de drogas pelos adolescentes. Esta correlação positiva foi comprovada para a maioria das drogas tanto legais como ilegais (Aubà e Villabil, 1993; Gash, Hereu, Rosseló e Vaqué, 1996).

 

Atendendo ao fator das atitudes da modelagem parental, é importante assinalar que as atitudes permissivas dos pais relativamente ao uso de substâncias, estas são percebidas por parte dos jovens como de igual ou maior importância que o consumo real dos pais (Muñoz-Rivas e Grana, 2001).

 

Conclusões

 

​A canábis tornou-se um tema de debate que envolve mensagens antagónicas. Por um lado, informa-se sobre as possíveis aplicações terapêuticas, e por outro, que não é uma substância inócua (Font-Mayolas, Gras e Planes, 2006). Uma questão que tem feito gerar algumas confusões entre as pessoas menos informadas.

 

Para evitar ou atrasar o início de consumo de tabaco e canábis na adolescência é fundamental um trabalho determinado, o envolvimento parental e as boas práticas dos pais, devendo estes tentar clarificar de forma adequada as normas, transmitir apoio, afeto, preocupação e controle.

 

As relações equilibradas baseadas no afeto, o apoio e os níveis consensuais de supervisão reduzem os fatores de vulnerabilidade familiar. A qualidade das relações familiares assim como as baixas taxas de discordância parental (discussões, agressões, etc.) são duas variáveis indiretamente relacionadas com o consumo de tabaco e canábis por parte dos filhos (McGee et al., 2000).

 

As conclusões dos estudos estão em cima da mesa, agora sirvam-se sff.

 

IDALINA SAMPAIO

 

Socióloga Unidade de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências IASAÚDE, IP-RAM

 

In “JM-Madeira”