A Semana Europeia da Urologia serviu para alertar os homens para algumas doenças. O i esteve à conversa com um doente que sofre de Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) e com um especialista que diz o que fazer nesses casos

Quando se fala em próstata, os portugueses têm apenas uma preocupação: cancro. Contudo, existem outras doenças, que apesar de benignas, condicionam bastante a qualidade de vida dos doentes. É o caso da Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) que normalmente está associada ao avançar da idade.

Ao contrário do cancro, que se manifesta de forma silenciosa, esta doença é normalmente diagnosticada em pacientes que apresentam queixas. E assim foi com António Fernandes de 75 anos. No ano passado, em junho, numa consulta de rotina com a sua médica de família queixou-se de que sentia dores quando urinava. A médica “mandou-me fazer uma ecografia e foi aí que recebi o diagnóstico: tinha uma pedra na bexiga”, contou ao i.

Depois de ter sido diagnosticado, o caminho foi longo e o problema foi-se agravando. Durante um ano, foi tomando medicamentos para tentar tratar o problema, mas nada parecia melhorar. “Ia tomando uns analgésicos para as dores”, mas o regresso aos hospitais e aos médicos era inevitável, recorda.

Desde que foi diagnosticado teve de ir quatro vezes até às urgências do Hospital Santa Maria, em Lisboa. António Fernandes recordou a “experiência” ao i. Da primeira vez, receitaram-lhe antibióticos, mas não deu em nada. À segunda, o médico colocou-lhe uma algália e mandou-o para casa. O caso continuou a piorar e António regressou novamente ao hospital, mas a resposta foi igual à das outras vezes e foi mandado para casa. Contudo, à quarta vez, a infeção já estava num estado muito agravado e a crise que sentiu foi “tão grande” que teve de ser internado. Esteve no hospital durante 11 dias a receber antibióticos via intravenosa.

A infeção passou, mas a pedra na bexiga continuava a provocar-lhe dores e não tinha outra hipótese a não ser esperar por uma vaga para ser operado.

Esse dia chegou há uma semana. Na passada segunda-feira foi operado. Ao i confessou que apesar de se sentir “frágil” e “trémulo”, como é normal depois de uma cirurgia, estava tudo a correr bem e agora já via um futuro mais positivo.

Na Semana Europeia da Urologia, que se assinalou entre 24 e 28 de setembro, António Fernandes, confessou que o ano que passou foi uma “luta” e recordou que este problema o afetou, tendo-se deixado ir “muito abaixo”. Agora, depois da cirurgia, agradece todo o apoio que recebeu, reconhecendo que foi bastante importante para o ajudar a ultrapassar os momentos mais difíceis, revelando que do seu lado teve sempre a sua família e amigos.

O que é a HBP? A HBP “corresponde a um aumento de volume [da bexiga] feito à custa do aumento do número de células”, explicou ao i José Manuel Palma Reis, urologista chefe de Serviço de Urologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte e assistente convidado de Urologia da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Segundo o especialista, este fenómeno “surge de forma progressiva e quase inevitável com o avançar da idade” e, na maior parte dos casos, esta alteração é “inofensiva”.

A HBP manifesta-se em cerca de 50% dos homens com mais de 50 anos e, segundo o especialista, não há nada que se possa fazer “para evitar” o seu aparecimento, mas os potenciais danos podem ser minimizados através de uma “vigilância adequada” que poderá ajudar a tratar atempadamente eventuais problemas que possam surgir.

 “O mito de que pode ‘evoluir’ para um cancro é absolutamente falso”, explicou José Manuel Palma Reis. Contudo, apesar de ser uma doença benigna, “por vezes pode ter complicações muito sérias”, alertou. E dá o exemplo: uma das complicações que pode aparecer com alguma frequência é a “lesão do alto aparelho urinário” que provoca “uma urotopia obstrutiva baixa”. Ou seja, a pressão dentro da bexiga é tão grande que “se transmite para os rins” e para o restante sistema, podendo mesmo levar a que os rins deixem de funcionar. O médico fala ainda em infeções urinárias, em alterações – por vezes graves e irreversíveis – da parede da bexiga ou até mesmo o aparecimento de sangue na urina.

Existe tratamento? Apesar de esta doença não ter prevenção nem cura, tem tratamento. Contudo, nem todos os doentes precisam de o fazer: “Antes de definir o tipo de tratamento a adotar” é essencial apurar se é realmente necessário fazer um tratamento. Porquê? Porque uma HBP sem sintomas, “em princípio, não necessita sequer de tratamento, necessita apenas de uma vigilância regular”, explicou ao i José Manuel Palma Reis.

“Quando existem sintomas que não conseguem ser controlados com pequenas alterações de comportamento”, há dois caminhos a seguir: medicação ou cirurgia, esclarece o médico.

Hoje em dia existem “vários fármacos que funcionam por mecanismos de ação diferentes”, o que permite aos médicos combiná-los de forma a ‘atacar’ “tanto os sintomas como a situação de base”, completou.

Apesar de a medicação ajudar, quando esta não é eficaz, o próximo passo é passar à cirurgia: “A cirurgia será sempre uma arma fundamental no tratamento destas situações, particularmente nos casos mais graves”.

Mas, segundo explicou o especialista, o tipo de tratamento a adotar é muito relativo, porque cada caso é diferente. Para que o médico consiga ter a abordagem mais adequada, é preciso conhecer a situação o mais detalhadamente possível. É ainda necessário monitorizar a situação e prever “possíveis complicações” que possam surgir, para que estas possam ser resolvidas atempadamente, adverte José Manuel Palma Reis.

Recomendações É muito importante que os doentes adotem medidas de prevenção. Segundo o médico, apesar de a HBP não evoluir para cancro nem ser maligna, é preciso manter a vigilância seguindo algumas recomendações médicas.

Primeiro os utentes devem consultar um urologista para “confirmar que os sintomas de que se queixam estão efetivamente relacionados com uma HBP”, começa por enumerar José Manuel Palma Reis.

Depois de ser confirmado medicamente de que existe de facto essa doença, o próximo passo é “estabelecer uma estratégia de abordagem da situação, de vigilância e despiste de complicações”.

Contudo, o médico assegura que na maior parte dos casos não é necessário avançar para cirurgia, e mesmo quando esta acaba por ser necessária, não é complicada.

• Dificuldade em iniciar a micção

• Jato urinário mais fino, fraco, curto e, por vezes, interrompido

• Gotejo terminal

• Esforço para urinar

• Aumento da frequência urinária

• Levantar-se várias vezes durante a noite para urinar

• Sentir urgência em urinar

• Equipamento de ponta

• Perdas de urina

TATIANA COSTA

In “Jornal I”