Esperemos que voltem a casa mais completos, saudáveise felizes, do que no dia em que partiram rumo aquele desconhecido chamado Escola.

Agora que já se reabriram os portões das escolas, é hora de ver passar novamente os alunos com as suas mochilas novas, cadernos e canetas coloridas, todos arranjados e prontos para mais um ano letivo. Assinalam mais este recomeço, trazendo consigo todos os sucessos e insucessos, receios, desejos, fantasias, dúvidas e sonhos, carregando às costas o peso das expetativas de todos, as deles, as dos pais, as dos professores e até mesmo as das escolas.

Escolas - Continuam com os recursos ao seu dispor, a tentar manter o equilíbrio entre ensino curricular e projetos de desenvolvimento pessoal e social, orbitando em torno dos alunos, procurando proporcionar conhecimento, cidadania e competências para a vida futura, num ambiente tranquilo. Este ano contemplam um desafio maior, acolher nas suas salas os inúmeros alunos que chegaram da Venezuela, com dificuldades na língua, habituados a outros climas, cultura e pessoas e que se deparam ainda com colegas diferentes, uns mais simpáticos que outros. Será necessário maior apoio, novos temas que incluam estratégias de inclusão, para que estes alunos, que irão levar mais tempo a se adaptar, se sintam bem e integrados nas novas escolas.

Alunos – A euforia dos primeiros dias, dos reencontros, dos novos colegas, professores, funcionários e adaptação a uma escola, que mesmo sendo a antiga, acarreta sempre novidades, depressa vai-se esbatendo, e a rotina das aulas vai-se impondo. Com os primeiros testes e avaliações, a pressão à volta dos jovens vai aumentando, e as dificuldades antigas vão ressurgindo rapidamente, gerando ansiedade e depressões. Temos de continuar a apostar no treino de competências de forma aos nossos alunos aprenderem a lidarem melhor com os problemas diários, trabalhando a automotivação, a cooperação, a autoestima, a assertividade, a resistência à pressão dos pares, procurando também, atividades extracurriculares, que permitam ainda assim, terem tempo livre para estar com os amigos e fazerem outras atividades que gostam e que os ajudam a lidar melhor com todas as expetativas à volta deles.

Pais – Com grandes diferenças de estilo, os que acompanham, os que estão longe, os que apoiam, os que pressionam demasiado, exigindo mais aos filhos que a si próprios, os que estão sempre presentes, os divorciados em guerra com os antigos parceiros esquecendo-se do que é importante, os que não têm tempo, os que arranjam tempo, os que já não sabem o que fazer, os que têm soluções para tudo. Não duvido que todos eles querem o melhor para os seus filhos, e felizmente na maior parte das vezes corre tudo bem, mas para os outros, será importante reconhecer as suas limitações e procurar mais suporte, seja fora da escola ou criando mais sessões sobre competências parentais fundamentais como a comunicação, regras, limites e gestão de emoções.

Professores – Continuam com grandes desafios na sua carreira, entre as dificuldades em lecionar, têm todos os anos, que definir estratégias para lidar com algumas turmas menos bem-comportadas, alunos desmotivados, currículos extensos, alguns pais mais complicados, diretores exigentes e a constante falta de tempo para atividades extracurriculares. Deve-se apostar na sua formação, em atividades que contemplem métodos e competências que os atualizem constantemente para a exigência do ensino e dos alunos atuais, do desenvolvimento cognitivo, moral e interpessoal e integrá-los sempre que possível, em projetos extracurriculares, como agentes e modelos socializadores privilegiados na prevenção de comportamentos de risco.

Desta forma, é aconselhável continuar a apostar cada vez mais, nos projetos de desenvolvimento de competências sociais e pessoais integrados, dirigidos a toda a comunidade educativa, permitindo desenvolver instrumentos para lidar com os principais desafios enumerados e prevenindo alguns dos problemas mais graves que afligem alunos, pais, professores e escolas, como sejam a gravidez juvenil, o consumo de álcool e outras drogas, o bullying, entre outros.

O futuro destes jovens começa hoje, e é o reflexo do trabalho e empenho diário de todos nós, que os ajudamos a tornaram-se pessoas mais preparadas para as dificuldades e desafios que a vida lhes irá apresentar. Esperemos que voltem a casa mais completos, saudáveis e felizes, do que no dia em que partiram rumo áquele desconhecido chamado Escola.

SÉRGIO CUNHA  Psicólogo

In “JM-Madeira”