Consumidores com mais episódios agressivos

 

Secretário da Saúde e psiquiatra da Casa de Saúde São João de Deus dizem que o pior ano, no que toca ao consumo de drogas psicoativas, foi o de 2012.

 

Quatro mortes. Quinhentos internamentos. Mais de cem mil euros em gastos. Tudo num ano (2012) e por causa do consumo de substâncias psicoativas. Estes números foram divulgados ontem pelo secretário regional da Saúde na cerimónia de abertura das 1ªs Jornadas Atlânticas para a Dissuasão da Toxicodependência na Região Autónoma da Madeira.

 

Hoje em dia, a situação é bem melhor. Não só em números, que Pedro Ramos garante serem “irrisórios”. Como no tipo de droga. Antes, a mais usada era a heroína. Agora é a cannabis.

 

Em 2012, Pedro Ramos era diretor do serviço de urgências do Hospital Dr. Nélio Mendonça: “a porta de entrada das substâncias psicotrópicas e psicoactivas, tivemos números assustadores, tivemos mortes, o que, por exemplo, não aconteceu com o surto da dengue, no mesmo período, internámos mais de 500 doentes (incluindo os das casas de saúde), consumidores dessas drogas e tudo isso custou ao erário mais de 100 mil euros”.

 

O apoio do legislador para dissuadir o consumo de drogas foi importante neste combate, conforme garantiu o secretário regional, recordando que a Madeira, através da Assembleia Legislativa, criou uma lei que visou encerrar os estabelecimentos de venda de determinadas drogas, fazendo baixar, consideravelmente, os problemas regionais.

 

No entender do secretário regional da Saúde, o trabalho da Comissão de Dissuasão tem sido bem conseguido. “Minucioso, meritório, que tem permitido caraterizar o nosso utente: sexo masculino, com idade de consumo entre os 20 e os 24 anos preferencialmente, com instrução, ativo, que se inicia na droga aos 16 anos. Atualmente, a maioria é consumidora de cannabis”, afirmou ainda aos jornalistas, à margem da sessão que decorreu no auditório da Polícia de Segurança Pública da Madeira.

 

Também à margem da cerimónia, o psiquiatra Luís Filipe Fernandes, que foi orador e que trabalha na área na Casa de Saúde São João de Deus (Trapiche), alinhou pela posição de Pedro Ramos e garantiu à comunicação social que, realmente, 2012 foi um ano assustador. Neste momento, aquela instituição tem 8 a 10 casos de jovens internados por causa da droga.

 

EPISÓDIOS PREOCUPANTES

 

Em 2012, a situação foi bem pior. “Temos tido uma diminuição nos últimos anos. O crescendo em 2012 foi fruto do aparecimento das drogas livres. A partir da regulamentação, passámos a ficar equilibrados. Agora continua a assustar tanta gente que, em determinada altura da sua vida, faz episódios psicóticos agudos, fruto do consumo”, sublinhou.

 

Estes episódios psicóticos agudos tornam os doentes bastante agressivos, conforme admitiu o médico. O psiquiatra diz que estes perdem o contexto da realidade e atentam contra terceiros, o que implica o seu internamento. Há casos que se tornam crónicos mas a grande maioria consegue recuperar, sendo orientada para outras instituições. Luís Filipe diz que a grande maioria são jovens mas já consumidores. Em 2012, os internados eram ainda mais jovens.

 

O comandante da PSP-Madeira, Luís Simões, também usou da palavra para lembrar que as questões das toxicodependências influenciam a ordem e paz social. Assim, a PSP acaba por estar diretamente envolvida com estas problemáticas. Luís Simões acentuou que tem sido muita a prevenção junto das crianças e jovens. Mas as dependências continuam a afetar o nosso dia a dia. Realçou as elevadas taxas de consumo de substâncias estupefacientes e álcool na sinistralidade rodoviária. Disse que a pequena criminalidade está quase sempre associada a este tipo de dependências e também falou na violência doméstica, cujas vítimas são, muitas vezes, agredidas por pessoas dependentes de drogas ou álcool. A sessão de abertura das jornadas contou ainda com intervenções da presidente da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência da Madeira, Teresa Fernandes, e de Suzete Frias, diretora regional da Prevenção e Combate às Dependências nos Açores.

 

500 INTERNAMENTOS REGISTADOS EM 2012

 

4 AS MORTES NO MESMO ANO DEVIDO AO CONSUMO DE DROGAS

 

10 O NÚMERO MÁXIMO DE INTERNAMENTOS ATUALMENTE

 

100 MIL EUROS: VALOR GASTO DO ERÁRIO PÚBLICO

 

Carla Ribeiro

 

In “JM-Madeira”