A palavra “stress” faz cada vez mais parte do nosso quotidiano. E não apenas no que se refere à saúde.

Ouvimos falar em testes de stress à banca, stress dos materiais utilizados na construção de pontes e edifícios, etc.

Mas, no caso da saúde, o stress é apontado como causa para inúmeros problemas, tanto físicos como psicológicos, por vezes como factor adjuvante, outras como elemento crucial e ainda outras quando não se conhece a verdadeira natureza do problema e se procura fornecer uma explicação aos pacientes.

O stress tem sido referenciado como elemento causal de doenças cardiovasculares, neurológicas, metabólicas, oftalmológicas, entre outras, e a verdade é que semelhante associação é difícil, se não impossível, de ser estabelecida de um modo cientificamente válido e reprodutível.

Deve o stress ser encarado como um factor negativo nas nossas vidas? A resposta, como sempre, não é única.

Na essência da sua definição, o stress corresponde a uma resposta inespecífica do organismo à necessidade de mudança. Perante uma alteração do meio ambiente, um estímulo físico intenso, um ruído forte, uma variação súbita da luminosidade, um evento social invulgar, a percepção de um perigo real ou não, o nosso corpo desencadeia um conjunto de alterações que nos preparam para uma resposta rápida, aumentando o nosso estado de alerta, a nossa frequência cardíaca, a nossa pressão arterial e a nossa capacidade muscular.

Contudo, apesar desta definição clássica, o stress é um fenómeno muito subjectivo, cuja definição é tudo menos linear. E, na ausência de uma definição inequívoca, a sua medição e correlação com a saúde torna-se ainda mais complexa.

De qualquer modo, esta noção de que o stress tem uma função adaptativa e, portanto, vital não pode ser menosprezada. É ele que nos prepara para os pequenos/grandes desafios do quotidiano, como ir a uma entrevista, fazer uma apresentação, actuar em público, ter um encontro romântico ou participar numa prova desportiva. Provavelmente, sem os efeitos do stress o nosso desempenho nessas e noutras situações seria bem mais frustrante.

Portanto, o stress é importante e deve ser encarado como um auxiliar precioso nas nossas vidas.

Os efeitos prejudiciais do stress ocorrem quando ele surge sob a forma de picos de intensidade (stress agudo) ou quando subsiste ao longo do tempo (stress crónico).

O stress agudo é sobretudo negativo quando ocorre em pessoas com doença cardiovascular instalada, nas quais a sobrecarga adicional por ele imposta pode causar arritmias, enfarte do miocárdio ou um acidente vascular. Por vezes, essa condição prévia só é descoberta após um episódio de stress, o que significa que as queixas reveladas não foram da exclusiva responsabilidade deste mas de algo mais que não estava ainda diagnosticado.

De igual modo, o stress prolongado acaba por ser lesivo, gerando fadiga, insónias, dificuldade de concentração, ou seja, o contrário daquilo que deveria acontecer.

Tem-se verificado em modelos animais que o stress crónico pode causar doenças semelhantes às encontradas entre nós, como enfarte do miocárdio, úlcera péptica, doença renal ou osteoartrite.

Importa, por tudo isto, reconhecer a importância do stress, não o diabolizar, mas aprender a controlá-lo.

No que se refere aos episódios agudos, pela sua imprevisibilidade e pela sua raridade, torna-se mais difícil a sua abordagem. A manutenção de estilos de vida saudáveis tenderá a tornar-nos mais resistentes às alterações bruscas e intensas que um stress agudo tende a provocar no nosso organismo.

Mais importante será identificar a presença de stress crónico e sermos capazes de o eliminar ou atenuar. Na maioria das vezes, a fonte desse stress reside bem perto, no nosso trabalho, na nossa casa ou mesmo dentro de nós. Conseguir identificar essa fonte pode ser fácil mas, com frequência, o mais complicado é descartá-la ou, pelo menos, torná-la mais fácil de gerir.

Muitos dos problemas na nossa vida estão tão intrinsecamente ligados a essa mesma vida que é impossível dissociá-los. Mas, quando assim for, será necessário criar mecanismos de defesa que nos ajudem a manter e gerir esses problemas de modo a que eles não nos causem tanto dano.

Como já referi, um estilo de vida saudável tenderá a proporcionar-nos melhores defesas físicas e psíquicas; o estabelecimento de relações interpessoais fortes (a solidão é sempre terrível…) reforça-nos interiormente e cria mecanismos de escape face às “agressões” quotidianas; aprender a identificar aquilo que nos perturba ou altera o nosso estado de espírito de um modo negativo e evitar esses confrontos; procurar dormir bem, reduzindo a cafeína ao final do dia, bem como a televisão e o uso do telemóvel ou do computador.

Não pretendo com estes conselhos oferecer nada de novo. Tudo o que aqui escrevo provém do bom-senso e da nossa experiência de vida. Mais do isso, quase tudo o que aqui escrevo, apesar de verdade, é de implementação prática complexa, porque raramente conseguimos alterar os factores que mais nos perturbam. Mudar de trabalho pode ser possível; mudar de família não; mudar a nossa maneira de lidar com o stress também é tudo menos linear.

O que pretendi aqui foi somente revisitar este tema e reforçar que o stress, só por si, não é deletério e é, até, essencial para nos empurrar em frente e para ultrapassarmos os obstáculos que teimam em surgir perante nós. Associá-lo somente a eventos negativos não faz qualquer sentido porque a sua missão essencial é precisamente ajudar-nos a enfrentar os desafios e as dificuldades, sejam elas de que tipo forem.

Em excesso, como tudo o resto, o stress faz mal e pode matar. Tendo isso presente, saibamos olhar em redor e, sobretudo, para dentro de nós, tentemos afastar o que não interessa e cercarmo-nos de coisas e pessoas que nos fazem bem.

E, como alguém escreveu, “if you succeed in doing this, tell me how…”.

Luis Gouveia Andrade

Médico Oftalmologista Grupo Lusíadas Saúde Director Geral da InfoCiência

In “Saúde Online”