Nelson Carvalho, diretor da UCAD, fala ao JM sobre um novo desafio que circula na internet

 

O diretor da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Ilícitos (UCAD), Nelson Carvalho, adverte para os riscos da internet, a propósito do desafio Momo que alegadamente tem vindo a assustar jovens e adolescentes.

 

Recordando o jogo 'Baleia Azul' [jogo que surgiu no ano passado O na Rússia e estaria supostamente relacionado com o suicídio de adolescentes], para o diretor da UCAD estes desafios vêm provar “a importância que tem a educação e o controlo parental junto das crianças e jovens a propósito da internet”.

 

Apesar de na Região, ou8 em Portugal, não ser conhecida qualquer vítima do desafio, Nelson Carvalho diz que o “mundo virtual deve ser monitorizado” e deixa algumas recomendações. RISCOS “SEMELHANTES” NOS MUNDOS VIRTUAL E REAL

 

“A internet é uma ferramenta muito interessante e com muitas potencialidades, mas, à semelhança do chamado mundo real, também tem riscos”, alertou o psicólogo.

 

Prossegue, referindo que “é tão perigoso dar informação pessoal na internet como aceitar algo de um estranho ou como uma substância psicoativa de um amigo. Os riscos são os mesmos e os pais muitas vezes não têm essa noção. Se nós não incutirmos isso nas nossas crianças e jovens estamos a pôlos em risco de vida, de saúde, ou de extorsão de dados”, sublinhou.

 

Para o psicólogo clínico, deve “haver um clima de confiança” e “diálogo franco” no seio familiar, e os pais devem fazer acordos prévios com os filhos, explicando “que de vez em quando vão ver que sites é que eles visitam”, por uma questão de monitorização e não para “invadir-lhes a privacidade”. O intuito é, para se houver algum risco, “atuarem imediatamente”, diz o diretor.

 

“Quanto mais novos os miúdos são, mais cuidados e mais medidas de controlo devem haver”, acrescentou, relembrando que “cada vez mais crianças e jovens têm acesso à internet, sendo esse acesso por vezes desregulado”.

 

SOBRE A MOMO

 

É graficamente representado por uma estátua situada num museu de artistas alternativos – Vannilla Gallery – que fica localizado na capital do Japão;

 

COMO FUNCIONA?

 

O desafio “faz as pessoas aceitarem um número de telefone desconhecido, que coloca em rico não só elas próprias como também todos os contactos que estão na lista, que podem ser extorquidos e ameaçados”, diz Nelson Carvalho.

 

De acordo com o que tem sido noticiado pela imprensa internacional, é resultado de inteligência artificial e atua principalmente através de um número de telefone com o indicativo do Japão (+81);

 

QUEM SÃO AS PRINCIPAIS

 

VÍTIMAS? “Geralmente são as crianças e os adolescentes, que muitas vezes não tem noção dos perigos e às vezes tem menos maturidade para dizer não. À semelhança da vida chamada real, muitas pessoas são mais arriscadas na internet, onde gostam de explorar”, acrescentou o responsável;

 

QUAIS SÃO OS RISCOS?

 

As vítimas podem desenvolver “situações psiquiátricas como ataques de pânico, perturbações de ansiedade e até, no último caso, levar ao suicídio”, alerta o diretor da UCAD;

 

SOU VÍTIMA DE CYBERBULLYING. E AGORA?

 

O primeiro a fazer “é falar com os pais e estes devem contactar autoridades como a PSP e a Polícia Judiciária para resolver a situação”, refere o psicólogo.

 

“Hoje em dia o telemóvel faz parte dos talheres”

 

O último estudo feito ao nível nacional, em 2015, pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, revela que 45% dos jovens de 13 anos e 77% dos jovens de 18 anos utilizam diariamente a internet, disse Nelson Carvalho, acrescentando que a média de utilização diária ronda entre as quatro e as seis horas.

 

“Hoje em dia, o telemóvel faz parte dos talheres e as pessoas O não aproveitam a refeição para conversar. Tudo isso dá uma ideia de que não há limites e não é privilegiada a interação cara a cara, que é fundamental para os humanos enquanto seres sociais”, afirmou. “Estudos têm vindo a demonstrar que alguns jovens e crianças utilizam meios eletrónicos durante a noite sem que os pais saibam e depois não dormem. A falta de descanso afeta o rendimento académico e pode provocar alterações no padrão de sono”, constatou o diretor, asseverando que “há uma série de problemas que estão a aparecer cada vez mais devido ao mau uso da internet e das novas tecnologias”.

 

Para além disso, explicou que uma hormona do sono responsável pelo desenvolvimento corporal - a melatonina - não é ativada com a luminosidade, podendo ocorrer problemas de crescimento. Sobre as consequências do uso excessivo da internet, o diretor enumera as seguintes: depressão; alheamento do dia a dia; irritabilidade face à abstinência; vulnerabilidade na falta do virtual.

 

A partir de setembro, o IASAÚDE dará início a um diagnóstico regional em matéria de hábitos de internet e uso de meios tecnológicos na Região, concluiu o diretor da UCAD.

 

Cláudia Ornelas

 

In “JM-Madeira”