É época de pausa nos estudos, das férias e das festas. O bom tempo e os dias longos convidam ao convívio. Depois da praia e dos mergulhos, as saídas à noite fazem parte integrante dos seus programas. E como acontecem cada vez mais cedo estas saídas…

 

É importante relembrar que ninguém substitui os pais no papel da educação e das regras. É a eles que compete definir a partir de que idade os filhos estão preparados para sair à noite e se têm ou não têm maturidade e responsabilidade para lidar com o reverso da medalha que estas saídas representam. Que pensar das atitudes dos pais que, diariamente, deixam os filhos, todas as manhãs à porta da escola mas que à noite dormem descansados enquanto os filhos com 12, 13 ou 14 anos saem com os amigos das mesmas idades?!

 

Que perigos correm estes adolescentes nestas saídas? São múltiplos com certeza. Um dos problemas que mais nos preocupa é o consumo do álcool.

 

A sociedade, no seu conjunto, apresenta em relação a esta questão, atitudes contraditórias. Por um lado condena o consumo de álcool pelos jovens, mas por outro é permissiva pois verifica-se alguma facilidade no acesso ao consumo, apesar de termos uma lei que impede a aquisição antes dos 18 anos.

 

Consequências do uso de álcool em adolescentes

 

​Uma certa omnipotência e o desafiar das regras são características destas idades que levam os jovens a correr alguns riscos. Acreditam estar “ magicamente” protegidos e os impulsos levam-nos a transgredir e a envolver-se em acidentes.

 

O consumo problemático de álcool está associado a uma série de danos no desenvolvimento da própria adolescência e nas fases seguintes. Devido às características específicas do desenvolvimento desta etapa e também por questões neuroquímicas do amadurecimento cerebral, os prejuízos do uso do álcool em adolescentes são diferentes e mais graves do que os prejuízos evidenciados nos adultos.

 

A regularidade dos consumos nos adolescentes apresenta alguns riscos e prejuízos associados à intoxicação:

 

1. O consumo de álcool pelos menores de idade está mais associado aos acidentes de automóvel e à morte do que o conjunto de substâncias psicoativas ilícitas.

 

2. A alcoolização aumenta a probabilidade de violência sexual tanto para o agressor como para a vítima. A quantidade de álcool ingerida interfere na autocensura. Os adolescentes quando intoxicados envolvem-se mais em atividades sexuais ficando expostos ao risco de gravidez indesejada e às doenças de transmissão sexual.

 

3. Os prejuízos académicos, consequência do deficit de memória têm uma grande relação com o consumo de álcool nestas idades. Adolescentes dependentes do consumo de álcool apresentam mais dificuldades de memorização do que os seus pares sem dependência desta substância psicoativa lícita. Dado que a memória é uma função importante na aquisição de conhecimentos e que sofre alterações, então é bastante evidente que este comportamento compromete o processo de aprendizagem. E os problemas acontecem em catadupa. O rendimento escolar pode afetar a auto-estima e gerar vulnerabilidades face à experimentação e consumo de outras substâncias psicoativas.

 

4. A principal causa de morte nesta faixa etária relaciona-se com os acidentes rodoviários ocorridos com o condutor alcoolizado e apenas uma minoria dos adolescentes tem a percepção deste problema. Bebem regularmente mas apenas apontam o comportamento impróprio durante e após o consumo como a consequência negativa.

 

5. É fundamental ter consciência que as consequências associadas aos consumos arrastam-se ao longo da vida. A investigação demonstra o impacto que tem o efeito dos consumos na neuroquímicas cerebral, na adaptação social e nas competências de vida.

 

É fundamental reverter esta realidade de consumos que nos preocupa e envergonha. Cada um de nós, e os pais, em particular, têm um papel importante a desempenhar neste processo de mudança. Através das regras e limites, do bom senso, da alteração de comportamentos, acredito que é possível mudar os padrões de consumo dos nossos adolescentes.

 

Boas férias e bons festivais (com moderação, de preferência).

 

IDALINA SAMPAIO

 

Socióloga Unidade de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências IASAÚDE, IP-RAM

 

In “JM-Madeira”