Nelson Carvalho já está a ver o resultado final da intenção da legalização da cannabis para fins medicinais

O Parlamento nacional vai debater hoje 3 iniciativas que visam a legalização da cannabis para efeitos medicinais. Nelson Carvalho, da UCAD, vê grandes perigos para depois disto.

O responsável pela UCAD (Unidade Operacional de Comportamentos Aditivos e Dependências) na Madeira alerta: a eventual despenalização da cannabis para utilização em fins medicinais não se ficará por aqui. Daqui a nada, aquela droga estará despenalizada também para fins recreativos.

É desta forma que Nelson Carvalho reage à carta já assinada por mais de cem profissionais de saúde (sobretudo médicos, enfermeiros e psicólogos) e que vai ao encontro da legalização da cannabis. Uma missiva que surgiu numa altura em que o Parlamento nacional se prepara para debater [deverá acontecer hoje] dois projetos de lei e um projeto de resolução que visam a despenalização daquela droga. “Suponhamos que o documento apresenta os argumentos que eu defendo [única e exclusivamente para fins medicinais]. Se fosse assim, não haveria qualquer problema. Claro que assinava. Agora, Auto-cultivo e a auto-utilização preocupam-me. E tenho a certeza de que essa será a fase seguinte”, responde, quando questionado sobre se assinava a carta que defende a legalização da cannabis para uso em tratamentos de determinadas doenças.

Nelson Carvalho, que também é psicólogo, considera que a medida defendida pelos 100 subscritores é extremamente perigosa, pois o que se pretende, no fundo é que a cannabis, numa fase posterior, seja legal para fins recreativos, situação que é mesmo um problema de saúde pública.

Explica que ao contrário do que se possa pensar não é legalizando as drogas que se vai resolver o problema.

Permitindo o auto-cultivo e a auto-utilização, “como é que se vai controlar isto?”, questiona Nelson Carvalho.

“Se reparar, tanto no álcool como no tabaco, a perspetiva proibicionista está a voltar e a incentivar-se cada vez mais. Se verificar, mesmo assim são as drogas mais consumidas no mundo”, adverte Nelson Carvalho, o qual considera que tem de haver aqui uma resposta integrada.

“A Madeira” - orgulha-se - “tem um trabalho muito bom na dissuasão, prevenção, tratamento e fiscalização” em colaboração “com diversas entidades”. Tem sido um trabalho profícuo e importante e “no meu entendimento, é assim que se lida com as substâncias”.

No entender deste responsável, esta medida que pretende a legalização da cannabis para fins medicinais “é uma forma encapotada do Bloco de Esquerda e do PAN para chegarem à legalização recreativa”. Aliás, acrescenta, “o Bloco de Esquerda nunca escondeu isso”.

Se esta medida for aprovada, Nelson Carvalho preconiza que será difícil o INFARMED e todas as entidades competentes fiscalizarem o auto-cultivo. “Virão com o argumento de que não conseguindo controlar, para acabar com isto, o melhor é legalizar para fins recreativos. E aqui está em causa um problema de saúde pública”, afiança.

Ao contrário do que diz o BE, considera, a liberalização “não diminui o tráfico nem o consumo”. Quanto maior é a oferta, maior vai ser o consumo. É assim que entende o responsável pela Unidade Operacional de Comportamentos Aditivos e Dependências.

Mas os subscritores da carta em questão dizem que “a cannabis tem inúmeros efeitos medicinais que podem e devem ser colocados ao serviço das pessoas”, diz a carta aberta, onde os signatários salientam que a legalização permitiria o acesso em condições reguladas e com garantia de qualidade. JM

Médico António Pedro Freitas diz que estão a abrir muitas portas

Estão a abrir portas a mais. Daqui a uns dias, tudo é possível”. A opinião é pessoal e nunca como representante da Ordem dos Médicos na Madeira. António Pedro Freitas, ortopedista e representante na direção da Ordem dos Médicos na Região, diz que não há posição institucional sobre esta matéria. Mas o médico não tem dúvidas de que este assunto exige muitos cuidados.

Para António Pedro Freitas, legalizar para fins medicinais é, sim, muito bom. O problema é que, depois disto, podem vir outras coisas mais. “Quem pensa em ética e na população [aqueles que legislam e decidem] deve pensar muito bem acerca deste assunto. É assunto melindroso. E se se torna legal a cannabis e depois não se consegue controlar o sistema, estamos a pôr em causa tudo e todos. Daqui a uns dias, pode-se tudo...”, defende.

 

Carla Ribeiro 

In “JM-Madeira”