A oniomania (do grego onio “compra” + mania “loucura”), também designada por Perturbação Compulsiva por Compras, é uma doença psiquiátrica que se carateriza por um desejo recorrente e descontrolado de fazer compras. Estima-se que atinja cerca de 6% da população mundial, e cerca de 90% são mulheres.

 

Os principais sintomas consistem em comportamentos repetitivos, pensamentos intrusivos/preocupações relacionadas com compras e impulsos para comprar, que são vivenciados como irresistíveis e de difícil controlo. Os doentes descrevem uma sensação de tensão e de ansiedade crescente, que só alivia quando a compra é realizada. Após a compra geram-se habitualmente sentimentos de culpa, angústia e preocupação. Com frequência são adquiridos objetos supérfluos e de elevado valor, resultando em problemas financeiros graves.

 

A oniomania tem início no final da adolescência ou na segunda década de vida, o que poderá estar relacionado com a emancipação do núcleo familiar, acesso a créditos bancários e com o uso compulsivo do computador, particularmente a utilização de sites onde é possível fazer compras on-line.

 

Estes comportamentos provocam sofrimento no indivíduo, são consumidores de tempo e podem originar problemas ao nível pessoal, familiar, legal e financeiro. Depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e/ou uso de substâncias são patologias comuns nos doentes que sofrem desta doença.

 

É importante distinguir estes comportamentos daqueles que decorrem de forma normal. Os gastos excessivos episódicos que ocorrem em ocasiões especiais (festas, aniversários, férias...) não configuram necessariamente este diagnóstico, principalmente se não estiverem associados a preocupação ou angústia e se não implicarem consequências adversas.

 

Ainda não estão esclarecidas as causas para esta perturbação, no entanto sabe-se que estão envolvidos fatores neurobiológicos, genéticos e psicológicos. O perfeccionismo, a impulsividade e a baixa auto-estima são traços de personalidade frequentemente associados à doença. Alguns fatores socioculturais são reforçadores deste tipo de comportamentos, particularmente a crença de que a aquisição de bens representa ascensão social, poder, prestígio e autonomia financeira. Para além disso o estímulo para o consumo e a disponibilidade de uma ampla gama de produtos podem contribuir para o desenvolvimento da doença.

 

O tratamento envolve acompanhamento psiquiátrico regular, psicoterapia cognitivo-comportamental e medicação. As intervenções em grupo são benéficas pois proporcionam um ambiente de apoio e encorajamento mútuos. A terapia de casal também pode ser necessária, caso se verifique problemática no relacionamento conjugal precipitada pela doença.

 

Para prevenir a compulsão por compras, os doentes são orientados no sentido de alterarem os seus comportamentos e hábitos de vida. Por exemplo, sugere-se para estes doentes: evitar épocas de promoções, evitar frequentar regularmente centros comerciais e faze-lo em companhia, não levar cartão de crédito ou usar credito limitado, fazer listas previamente para adquirir apenas o que é necessário, evitar a utilização sites de compras on-line.

 

LUÍSA LAGARTO

 

Psiquiatra e membro da direção da Associação Cérebro e Mente

 

In “Público”