Um estudo que envolveu 4.500 indivíduos conclui que os que consumiam mais de 13,7 g de sal por dia tiveram quase dobraram o risco de desenvolver insuficiência cardíaca (IC), independentemente de outros fatores de risco, em comparação com aqueles que consumiram menos de 6,8 g por dia.

 

Os dados foram apresentados no decorrer do Congresso de 2017 da European Society of Cardiology (ESC).

 

O investigador principal do trabalho, Pekka Jousilahti, do Instituto Nacional para Saúde e Bem-Estar, em Helsinki, Finlândia, afirmou que atualmente há evidências suficientes para se começar a tomar medidas para reduzir a ingestão de sal tanto na Europa quanto globalmente.

 

Para isso, solicitou legislação e educação para ajudar a atacar o problema, juntamente com colaboração da indústria alimentar.

 

Questionado sobre o quão fácil seria para as pessoas reduzirem o consumo de sal, dado que os fabricantes de alimentos adicionam sal aos seus produtos, Jousilahti disse que este é um dos primeiros pontos a serem abordados, já que “cerca de 80% da ingestão de sal vem de alimentos processados”.

 

Aproveitando a pergunta, Joep Perk, do Hospital Distrital Oskarshamn, Suécia, destacou que “os finlandeses foram muito bem-sucedidos na legislação” para reduzir o consumo de sal de sua população, o que foi acompanhado por uma queda nas taxas de acidente vascular cerebral (AVC).

 

Jousilahti confirmou que, durante a década de 1970, o consumo diário médio de sal na Finlândia era de aproximadamente 14,0 g por pessoa, mas atualmente é de cerca de 6,0 g para as mulheres e 7,0 g para os homens. “Claro, ainda não alcançamos as recomendações, mas foi uma boa tendência de queda”, disse ele.

 

Ignacio Ferreira-González, do Hospital Universitário Vall d’Hebron, em Barcelona, ​​Espanha, não esteve envolvido no estudo, mas assistiu à apresentação do mesmo e ressaltou “que é muito difícil medir o consumo de sal”.

 

Dessa forma, para ele, um dos pontos fortes do estudo atual é que, ao determinar os níveis de excreção de sódio na urina, eles mediram o consumo de sal “de uma maneira muito precisa”.

 

No entanto, concordou com Jousilahti que será um desafio reduzir o consumo do produto devido ao sal adicionado aos alimentos pelos fabricantes, embora “talvez não seja tão difícil nos países do sul da Europa, porque não nos tornamos tão acostumados ​​às refeições processadas como no norte.”

 

Jousilahti afirmou que, enquanto a necessidade biológica de sal é estimada em apenas 2,0 a 3,0 g por dia, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma ingestão máxima de 5,0 g de sal por dia, o consumo é maior que esses números na maioria das populações.

 

A alta ingestão de cloreto de sódio é uma das principais causas de hipertensão, e um fator de risco conhecido para doença cardíaca coronariana e AVC. No entanto, o grau em que o alto consumo de sal aumenta o risco de insuficiência cardíaca não foi determinado.

 

No entanto, como a técnica padrão-ouro é determinar a excreção média de sódio a partir de amostras de urina de 24 horas, houve poucos estudos de coorte populacionais que avaliaram com precisão o impacto do consumo de sal sobre o risco de insuficiência cardíaca.

 

Para pesquisar ainda mais, a equipe estudou 4.630 homens e mulheres com idades entre os 25 e 64 anos que participaram do North Karelia Salt Study ou do National FINRISK Study entre 1979 e 2002.

 

As medidas clínicas no início do estudo, as amostras de sangue, e as amostras de urina de 24 horas foram coletadas, com 1,0 g de consumo de sal equivalente a 17,1 mmol de excreção de sódio. Além disso, os participantes completaram questionários de comportamento de saúde.

 

Registos de saúde nacionais foram então avaliados para determinar a taxa de insuficiência cardíaca incidente ao longo de um acompanhamento médio de 12 anos, com base em causas de morte, sumários de alta hospitalar e reembolsos de medicamentos.

 

Houve um total de 121 casos de insuficiência cardíaca incidente durante o acompanhamento.

 

Os modelos de risco proporcional de Cox por quintis de ingestão de sal, ajustados para idade e sexo, revelaram que, em comparação com uma ingestão diária de sal < 6,77 g/dia, um consumo de 6,77 a 8,80 g/dia foi associado a uma hazard ratio (HR) para um novo diagnóstico de insuficiência cardíaca de 0,83.

 

Para um consumo diário de sal de 8,81 a 10,95 g/dia, a HR para insuficiência cardíaca incidente foi de 1,40, enquanto a HR para um consumo diário de 10,96 a 13,73 g/dia foi de 1,70, e a para o consumo diário > 13,73 g/dia foi 2,10 (P = 0,002 para a tendência).

 

Quando a pressão arterial sistólica, o índice de massa corporal e os níveis séricos de colesterol foram adicionados ao modelo, as hazard ratios para insuficiência cardíaca incidente foram atenuadas, mas permaneceram significativas.

 

Jousilahti observou que, devido ao potencial viés de diluição de regressão resultante da estimativa basal isolada da ingestão de sal, é provável que os riscos observados subestimem o risco real representado pelo consumo aumentado de sal, e que a ingestão de sal ideal seja menor que 6,77 g/dia.

 

O investigador explicou que para oferecer uma estimativa mais detalhada do risco de insuficiência cardíaca, são necessários estudos maiores de coortes populacionais agrupadas.

 

In “Jornal Económico”