Descrição da doença
A Dengue é uma doença viral, causada por um flavivírus da família Flaviviridae, cujo vetor é um mosquito do género Aedes, que se reproduz em ambiente peri doméstico, com uma vasta dispersão a nível das regiões tropicais e subtropicais. Enquanto a maioria dos casos clínicos se apresenta como uma doença febril, também se registam formas graves incluindo febres hemorrágicas e choque com fatalidades associadas. Visto a dengue tratar-se duma doença hemorrágica viral, está sob vigilância europeia. É a doença viral transmitida por mosquitos com maior importância a nível mundial uma vez que ocorrem dezenas de milhões de casos todos os anos que resultam em cerca de 20.000 a 25.000 mortes, sobretudo em crianças. Existem 4 serotipos distintos do vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4), todos de origem asiática e sem imunidade cruzada, logo as pessoas que vivem em determinada região endémica da doença podem ter várias infeções por dengue durante a sua vida. Atualmente não existe vacina disponível. A dengue é endémica na maioria dos territórios europeus ultramarinos localizados nas regiões tropicais. Na Europa continental podem ocorrer surtos limitados em zonas infestadas por Aedes albopictus, uma espécie invasora de mosquito que aumentou a sua dispersão nos últimos 20 anos.
Caraterísticas clínicas
Entre 40 a 80% de todas as infeções por dengue são assintomáticas.
Sintomas clínicos mais comuns incluem febre elevada de início súbito, dores de cabeça fortes e dor retro orbital, mialgia, artralgia, exantema maculopapular e hemorragias menores. A febre e os outros sintomas geralmente seguem uma sequência, com uma breve remissão após o terceiro dia. A doença raramente dura mais do que 10 dias, mas a convalescença pode ser prolongada e debilitante.
Uma proporção dos casos, geralmente inferior a 5%, pode ser grave e uma fração destes pode ser fatal. A maioria dos casos graves e das mortes ocorre em crianças e adolescentes. A dengue grave – geralmente referida por Dengue hemorrágica/Febre Hemorrágica de dengue/Síndrome de Choque de Dengue, para distinguir da clássica febre de dengue – é caraterizada por um aumento da permeabilidade vascular que pode levar a choque hipovolémico potencialmente fatal.
Transmissão
O período de incubação da infeção no homem é de 3 a 21 dias, com uma média de 4 a 7 dias.
A virémia atinge as titulações mais elevadas no dia anterior ao início dos sintomas e geralmente permanece suficientemente elevada para infetar mosquitos durante os quatro dias seguintes.
A imunidade a qualquer um dos quatro serotipos é provavelmente vitalícia, mas tal não confere imunidade aos outros três serotipos.
Os humanos são o principal hospedeiro amplificador do vírus. Nas áreas urbanas tropicais e subtropicais, os vírus são mantidos num ciclo humano/mosquito.
A única forma de transmissão da doença é através da picada de um mosquito infetado.
Os mosquitos adquirem o vírus quando se alimentam de um hospedeiro em estado de virémia, após o que (numa espécie suscetível) o vírus infeta vários tecidos, incluindo as glândulas salivares. Apesar de poder levar semanas (e muitas refeições sanguíneas) para um mosquito se tornar infecioso, os mosquitos ficam infetados para a vida. As novas infeções em humanos ocorrem quando a saliva que contém o vírus é injetada num hospedeiro não imune durante refeições sanguíneas subsequentes. O período de incubação extrínseco, ou seja, o tempo necessário para o mosquito se tornar infecioso, é cerca de 10 dias a 27°C.
Existem algumas evidências que os macacos da floresta estão envolvidos num ciclo silvático em que os mosquitos são vetores no sudeste asiático e África ocidental. Contudo, não existem provas de que estes vírus sejam responsáveis por grandes epidemias.
A dengue é sobretudo uma doença de aldeias e zonas urbanas porque o seu principal vetor, Aedes aegypti, é abundante no ambiente peri doméstico. A espécie é um vetor altamente eficaz: alimenta-se quase exclusivamente de humanos, reproduz-se em pequenos contentores feitos pelo homem que contêm água, descansa no interior dos edifícios e raramente se encontra a mais de 50 metros de habitações humanas. Os seus hábitos de picada tendem a ser diurnos.
Uma segunda espécie, o mosquito tigre asiático, Aedes albopictus, pode ser comum no ambiente peri doméstico, sobretudo em áreas urbanas com vegetação abundante. É considerado, contudo, como um vetor secundário porque não tem um hospedeiro específico; as refeições sanguíneas podem ser realizadas em animais que não são suscetíveis ao vírus de dengue e portanto não participam no ciclo de transmissão. Todavia, já ocorreram epidemias em locais onde este mosquito era a única espécie de vetor presente.
O mosquito Aedes albopictus presente no sul da Europa está bem adaptado às temperaturas do inverno, e é provável que expanda a sua distribuição para norte. Já constitui um grande incómodo em vários países mediterrânicos e foi responsável por casos autóctones de dengue em França e na Croácia em 2010.
Epidemiologia
A dengue é endémica em mais de 100 países em África, continente americano, sudeste asiático, Pacífico ocidental e leste do Mediterrâneo.
Os vírus de dengue são extremamente móveis e transportados por passageiros infetados e todos os quatro serotipos podem co circular em muitas cidades em todo o mundo. O número de casos de dengue tem vindo a aumentar de forma dramática nas últimas décadas e têm-se registado grandes surtos.
É frequente registarem-se casos importados de dengue por viajantes que regressam à UE, de zonas endémicas e que podem vir a gerar uma transmissão local em áreas onde o vetor está presente. Em agosto de 2010, registaram-se vários casos autóctones (de gravidade moderada) na Croácia e na França, em áreas infestadas por Aedes albopictus.
O Aedes aegypti já esteve presente na Europa, onde foi responsável por grandes epidemias de febre-amarela e dengue. O seu desaparecimento após a II Guerra Mundial nunca foi explicado. Atualmente está presente na Madeira e é possível que se venha a reestabelecer na Europa.
A última epidemia de dengue no continente europeu data de 1927/28 na Grécia, com elevada taxa de mortalidade e o mosquito Aedes aegypti como vetor.
O risco de transmissão de dengue através de transfusões sanguíneas está sob investigação.
Medidas de controlo da saúde pública
Os mosquitos vetores colonizam sobretudo coleções de água, como por exemplo os pratos sob os vasos de flores, contentores de água que não estão bem fechados, poços e tanques de armazenamento, buracos em árvores e rochas. Assim, a remoção destes criadouros através do esvaziamento de águas estagnadas dentro e à volta das casas, semanalmente, é a forma mais eficiente de evitar a proliferação do mosquito.
A aplicação de inseticidas aerossolizados através de máquinas portáteis, veículos automóveis ou aviões é dispendiosa e ineficaz. Para além disso, mesmo que se atinja uma elevada taxa de mortalidade, o impacto nas populações adultas é demasiado curto para ter um impacto eficaz a nível da transmissão.
Medidas de proteção pessoal e prevenção
Não existem grupos de risco em particular: qualquer pessoa exposta ao vetor infetado pode ficar infetada com o vírus. Contudo, os casos mais graves são registados em crianças nos países endémicos.
A prevenção da dengue baseia-se atualmente na proteção pessoal contra a picada do mosquito. Muitas autoridades recomendam medidas de proteção pessoal (camisas de manga comprida, calças metidas dentro das meias, repelente de insetos, etc.) mas a abordagem é pouco prática em países quentes, sobretudo por causa dos hábitos de picada do vetor.
Não existe vacina para a dengue, mas este é um campo ativo de investigação e há várias vacinas candidatas em fase de testes clínicos.