Em Portugal, dados recentes do estudo Global Burden of Diseases (GBD), mostram que os hábitos alimentares inadequados surgem como o factor de risco que mais contribui para o total de anos de vida saudável perdidos pela população, seguindo-se da hipertensão arterial, da obesidade e do sedentarismo, entre outros.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade, pandemia mundial do século XXI, mais do que duplicou desde 1980. Em 2014, mais de 1,9 biliões (39%) de adultos tinha excesso de peso, 600 milhões (13%) dos quais eram obesos. Mais preocupante ainda quando se observa que 41 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos têm excesso de peso ou são obesas. Em Portugal, em 2014, segundo o Inquérito Nacional de Saúde, mais de metade da população portuguesa adulta (52,8%) tinha excesso de peso e, de acordo com o Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI), 31,6% das crianças entre os 6 e os 8 anos tinham excesso de peso ou obesidade.

A obesidade tem como consequência um maior risco de desenvolvimento de acidente vascular cerebral, doença cardiovascular, diabetes, doença osteoarticular e alguns tipos de cancro.

Em Portugal, em 2002, os custos indirectos totais com a obesidade foram estimados em 199,8 milhões de euros.

A boa notícia: a obesidade é largamente prevenível através da adopção de estilos de vida saudáveis, pelo que a OMS recomendou aos governos a urgente implementação de programas que promovam (1) a ingestão de alimentos saudáveis em detrimento daqueles com elevada densidade calórica e das bebidas açucaradas, (2) a actividade física, (3) ambientes escolares saudáveis.

Em Portugal, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável desenvolvido pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) adopta um modelo de estratégia semelhante com vista a modificar comportamento, alimentar e promover hábitos alimentares saudáveis. Muitas das medidas sugeridas baseiam-se na necessidade de se modificarem as escolhas alimentares, através de educação para a saúde, tendo como alvos prioritários populações de mais baixo nível de literacia e mais baixos rendimentos. Por outro lado, menciona ainda medidas que condicionem a procura de alimentos menos saudáveis, das quais se destaca o agravamento do preço por forma a limitar a compra e a direccionar a indústria alimentar no sentido da reformulação dos seus produtos alimentares

Impera assim a necessidade de colocar esta problemática na agenda dos decisores políticos para que medidas de combate à obesidade se tornem numa realidade transversal ao país, prevenindo-se, dessa forma, muitas das doenças crónicas não transmissíveis para as quais a obesidade é factor de risco importante, com especial destaque para o acidente vascular cerebral, primeira causa de mortalidade e incapacidade não traumática no nosso país.

 Médica e nutricionista, membro da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral

 

Fonte: Público