Há poucos dias fui abordada por uma mãe de um colega do meu filho preocupada com as notícias sobre o tráfico de droga junto à escola que ambos frequentam.

 

Para quem tem filhos a entrar na fase da adolescência, a droga, a par daquele medo natural de uma doença grave, constitui o topo das preocupações.

 

 

Por muitos alertas que se faça, por muitas conversas e avisos sobre os malefícios das drogas, por muito que nos digam que sim, que estão conscientes de que tudo isso é prejudicial, fica-nos sempre aquele apertozinho na barriga ao pensar que um dia possam ceder à tentação e experimentar, abrindo, a partir daí, a porta ao consumo habitual.

 

A droga é, assim, o grande bicho-papão dos pais, daqueles que nos aterrorizam de morte. Que parecem estar bem escondidos, mas que, de um momento para outro, nos aparecem à frente e, por muito que liguemos as luzes, não desaparecem e nos arrastam para esse mundo de escuridão.

 

Olhamos para os nossos filhos e acreditamos que vão ser fortes porque é a isso que nos queremos agarrar, mas, se ter essa confiança não representa nenhum mal, não podemos baixar os braços nem desativar o sistema de alerta.

 

Quando se quer aliciar alguém, encontra-se sempre forma. No mundo da droga não é diferente.

 

A verdade é que não conseguimos controlar todos os passos dos nossos filhos, pelo que só nos resta dar o exemplo e apostar na sensibilização e prevenção.

 

Eleger este tema como ‘tabu’ em casa não impede, na minha opinião, que ele surja. Pelo contrário, talvez possa significar na cabeça dos nossos filhos que não lhe damos a devida importância e que se calhar não custa nada experimentar. Até porque, muitas vezes, já se aperceberam que o pai ou mãe até consume algum tipo de substância psicoativa e até levam a sua vida ‘normal’. E, afinal, se os ‘pais’ não conseguem ‘resistir’ porque irão eles fazê-lo?

 

Esse ‘trabalho de casa’ deve ser complementado pelo trabalho em comunidade. Na Madeira, têm sido dados passos importantes nesse sentido.

 

Uma das medidas que tem sido extremamente relevante na sensibilização dos jovens em idade escolar é a do programa ATLANTE – Enfrentar o Desafio das drogas, da responsabilidade conjunta da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências, do Instituto de Administração de Saúde e Assuntos Sociais, e da Direção Regional de Educação. Isto, além de a nossa Região ter sido pioneira na proibição da venda das chamadas ‘drogas legais’. Não eliminou o consumo, mas veio diminui-lo e dificultar um pouco mais o acesso a esse tipo de drogas.

 

Dirigido aos alunos do 5.º ao 9.º ano de escolaridade, o programa ATLANTE tem por objetivo dotar os alunos de informação, atitudes e promover valores e competências necessárias para decidir de forma racional e autónoma perante a oferta de drogas. E a capacidade de decisão nesta matéria é fundamental porque seria muita ingenuidade da nossa parte pensar que em nenhum momento da sua vida os nossos filhos serão confrontados com a ‘oferta’ de droga, seja ela qual forma.

 

Por isso, não vale enfiar a cabeça na areia nem tapar o sol com a peneira. É preciso ensinar a dizer que não, a resistir, a não ceder porque os amigos alinham. Este é o nosso grande desafio enquanto pais e comunidade. O que não significa que não tenha de ser feito todo o restante trabalho de combate ao tráfico (e sei que ele não está a ser descurado). Saber que a escola dos nossos filhos está a ser rondada por traficantes não deixa descansado nenhum pai, mesmo que essa aposta na sensibilização seja uma constante.

 

Que cada um faça a sua parte.

 

Sílvia Ornelas

 

In “JM-Madeira”