Directora-geral da Saúde defende que o estado da saúde não pode ser dissociado do estado da sociedade. E que, por isso, “os determinantes sociais e ambientais devem estar no topo” das preocupações das autoridades da Saúde.

 

Chamada a fazer um resumo do retrato da saúde em Portugal, a directora-geral da Saúde não tem dúvidas de que o “estado da saúde em Portugal melhorou consideravelmente ao longo da última década”. Considera que se nasce e cresce bem no país. “E as pessoas vivem mais tempo.” No entanto, os ganhos em anos de vida registados no novo milénio “não se fizeram acompanhar da correspondente melhoria da qualidade e do bem-estar” e continuam a reflectir desigualdades sociais, afirmou Graça Freitas.

 

Na abertura da cerimónia que assinalou o Dia Mundial da Saúde, neste sábado em Lisboa, Graça Freitas começou pelos números. Há mais de um milhão de pessoas com mais de 65 anos, a esperança de vida à nascença é de 81,3 anos (mais elevada do que a média da União Europeia) e entre 2000 e 2012 ganharam-se, em média, mais de quatro anos de vida. No entanto, aqui “persistem hiatos consideráveis entre grupos sócio-económicos e níveis de escolaridade”. Ou seja, são grandes as disparidades quando mais ricos ou mais pobres, mais ou menos escolarizados, são chamados a classificar se estão ou não bem de saúde.

 

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E ainda que tenha vindo a esbater-se esta diferença, os homens vivem, em média, menos seis anos do que as mulheres. Nelas a esperança de vida à nascença é a sexta melhor da Europa. Aos “65 anos as mulheres portuguesas podem viver mais 22 anos, mas um quarto desses anos sem incapacidade”, demonstrou Graça Freitas. Os homens vivem menos, em média, mas com mais saúde.

 

Por isso, nesta intenção de fazer corresponder um aumento da esperança média de vida ao aumento da saúde e qualidade da mesma, “ainda temos muito a ganhar”, afirmou a directora-geral. “Viver mais é uma conquista, viver melhor e com menos desigualdades é um desafio”.

 

Na lista de desafios futuros elencados por Graça Freitas está ainda o envelhecimento da população e consequente aumento da prevalência das doenças crónicas e doentes com múltiplas patologias, o que “exige integração de cuidados” e um “SNS de mais proximidade”.

 

E pediu aos dirigentes e autoridades da Saúde que não dissociem, nas suas políticas, o estado da saúde do estado da sociedade. “As desigualdades ao nível da saúde estão relacionadas com determinantes associadas às condições de vida, de trabalho e ao meio físico em que as pessoas vivem”, por isso, afirmou, “os determinantes sociais e ambientais devem estar no topo das nossas preocupações”.

 

Até 2020, lembrou, há metas que o país se comprometeu a atingir: a melhoria da esperança de vida com saúde aos 65 anos e a redução da mortalidade prematura, relacionada com as doenças que poderão ser evitadas com alterações dos comportamentos.

 

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As mudanças consequentes do envelhecimento populacional levaram também a economista Ana Isabel Saraiva, vice-presidente da associação Respira, a alertar para a necessidade de repensar os sistemas de saúde, actualmente orientados "para doenças agudas”, para que possam acomodar as doenças crónicas e os desafios sociais consequentes.

 

Sobre a questão do acesso aos cuidados, a também membro da comissão encarregue da revisão da Lei de Bases da Saúde instou as câmaras municipais a articularem-se com as unidades de saúde para garantir as deslocações aos utentes, nomeadamente do interior do país para os hospitais centrais.

 

MARGARIDA DAVID CARDOSO

 

In “Público”