Apesar da resposta positiva, reservas de ORH- continuam nos mínimos

 

O SESARAM pediu e a população respondeu. Apesar das reservas estarem repostas, o sangue ORH- continua nos níveis mínimos. O responsável pelo Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do Hospital diz que é necessário repensar a estratégia de fidelização de dadores.

 

O apelo lançado pelo SESARAM às dádivas de sangue rendeu 104 novos dadores, desde o passado dia 16 até ao dia de ontem, afirmou ao JM Bruno Freitas, responsável pelo Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do Hospital Dr. Nélio Mendonça, a propósito do Dia Nacional do Dador de Sangue, que é hoje celebrado.

 

O número merece destaque, se tivermos em conta que a média anual é de 400 novos dadores. O que significa que, no espaço de dez dias, 26% desse número foi alcançado e que, neste momento, “as reservas de sangue estão repostas nos níveis mínimos”, garantiu Bruno Freitas, que enalteceu a resposta dada pela população geral, pelos profissionais do SESARAM e pelos meios de comunicação.

 

Relembre-se que a maior preocupação do SESARAM era com a reposição de sangue do grupo sanguíneo ORH-. Foram por isso convocados 64 dadores desse tipo sanguíneo e, até ontem, 28 (cerca de 44%) tinham respondido ao apelo.

 

Uma vez que entre os dias 16 e 26 de março de 2017 o SESARAM acolheu cerca de 155 dadores e no mesmo período deste ano foram recebidos 386, é estimado que 185 tenham resultado do apelo.

 

O CIRURGIAS SUSPENSAS POR FALTA DE SANGUE

 

Apesar de o momento de 'sufoco' ter passado, a rutura do stock fez com que duas cirurgias de doentes com o grupo sanguíneo ORH- tivessem de ser reprogramadas, razão que conduziu à solicitação do SESARAM, explicou Bruno Freitas, que acrescentou que quando situações dessas ocorrem, “algo tem de ser feito de imediato”.

 

A explicação para o elevado número de consumos internos, ou para o aumento de transfusões de sangue, deveu-se ao elevado número de doentes com anemia provocada, em muitos dos casos, pela introdução de novos medicamentos mais “agressivos”, utilizados para tratar certas patologias como as neoplasias, explicou o especialista.

 

Uma vez que os números de dádivas e transfusões efetuadas este ano eram, na altura da diminuição das reservas, semelhantes ao período homólogo do ano passado, o médico explica que foi por “mera coincidência” que vários dos doentes que necessitaram da transfusão pertenciam ao grupo sanguíneo ORH-, situação que levou à rutura dos stocks, que não era sentida “há muito tempo”, acrescentou.

 

PORQUE FOI LIMITADA A RECOLHA

 

Os recursos humanos e materiais limitados, a delineação de 90 testes sanguíneos diários e a necessidade de uma gestão adequada dos dadores, de forma a evitar outras situações de rutura, fizeram com que o SESARAM tenha limitado, na passada sexta- feira, a colheita de sangue a 43 dadores.

 

Recorde-se que essa situação ocorreu no dia seguinte ao noticiado “recorde” de doações de sangue efetuadas ao SESARAM. Relativamente a esse assunto, e confirmando ter sido o maior número de doações recebidas, Bruno Freitas ressaltou que o objetivo das recolhas “não é bater recordes” e diz que, ao contrário do que foi divulgado, não foram efetuadas 100, mas sim 88 colheitas nesse dia.

 

Asseverando que os dadores são sempre necessários, o especialista acrescentou que o número de colheitas foi limitado porque se todos doarem na mesma altura vão também regressar na mesma altura e, uma vez que as colheitas têm a validade de 42 dias, é solicitado aos dadores que se vão distribuindo ao longo do ano, para evitar os momentos de escassez.

 

GARANTIR A AUTOSSUFICIÊNCIA

 

Apesar de os valores mínimos estarem garantidos, para Bruno Freitas é necessário repensar a estratégia de fidelização dos dadores, para que uma rutura destas não volte a acontecer.

 

“Este apelo resolveu pontualmente o problema, mas se nada fizermos, dentro de três ou quatro meses isto vai voltar a acontecer”, afirmou o profissional de saúde, acrescentando ser necessário arranjar formas de sensibilizar a população para a dádiva de sangue que descreve como “um ato de cidadania”.

 

Concluindo que os dadores têm de estar fidelizados para que sejam fáceis de contactar, Bruno Freitas explicou que a saída dos estudantes da Região e o envelhecimento da população são fatores que contribuem para a diminuição do número de dádivas.

 

Evidenciando a necessidade de que seja promovida a auto-suficiência da Madeira, por estar isolada do continente, o responsável acrescentou que se as reservas mínimas não forem acauteladas, há o “risco” de a Região “não conseguir dar resposta a uma situação de catástrofe que implique elevados consumos”.

 

 

 

3.000 VALOR MÉDIO DE DADORES NA REGIÃO

 

386 DADORES RECEBIDOS APÓS APELO DO SESARAM

 

104 NOVOS DADORES ANGARIADOS APÓS APELO

 

400 MÉDIA ANUAL DE NOVOS DADORES NA MADEIRA

 

Cláudia Ornelas

 

In “JM-Madeira”