Manuel Figueiroa, director do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do SESARAM

 

Todos os anos, o Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital Dr. Nélio Mendonça realiza mais de um milhar de intervenções, em várias vertentes: cirurgia reconstrutiva, da mão, maxilo-facial, pós-oncológica, etc.

 

Em entrevista ao DIÁRIO, o director daquele serviço hospitalar, fala sobre o trabalho que é feito por estes especialistas e alerta para a importância das pessoas se informarem devidamente antes de fazerem uma intervenção ou tratamento de medicina estética, já que há muitos profissionais a fazê-los sem estarem devidamente habilitados para o efeito.

 

Como está a Cirurgia Plástica e Reconstrutiva na Região?

 

A Cirurgia Plástica continua bem. Somos três especialistas no Serviço de Saúde da Região e também trabalhamos na privada. Agora, em Janeiro, um novo interno iniciou a especialidade.

 

O facto de terem este interno da especialidade é bom sinal?

 

Sim, é uma garantia em relação ao futuro.

 

No que respeita o SESARAM, as necessidades ao nível da Cirurgia Plástica são diferentes daquelas do Privado. No Hospital há sobretudo situações de cirurgia reconstrutiva?

 

Sem dúvida. Mas por vezes é difícil estabelecer uma separação entre o que é puramente estético e o que é funcional. Repare, podemos dizer que uma mulher amputada da mama devido a um tumor, vai ser submetida a uma cirurgia estética? Não! Realmente é uma cirurgia reconstrutiva e funcional porque isso vai contribuir não só para o seu bem-estar físico, mas também para o seu bem-estar emocional e psíquico. Por outro lado, há cirurgias que são consideradas puramente estéticas, como as das rugas da face, ou de aumento mamário... Mas também aí há uma situação de difícil definição, porque para uma rapariga que não tem peito nenhum, uma cirurgia de aumento mamário pode ser importante para a auto-estima e o bem-estar...

 

É um pouco complicado dizer então o que é puramente estético?

 

Exacto. Muitas vezes não é fácil de definir. Para quem está de fora pode ser estético, mas para quem se submete à intervenção, muitas vezes não é só isso. E é importante recordar que a Cirurgia Plástica não é só Estética. É Cirurgia Maxilo-facial, Cirurgia da Mão, são os tratamentos de queimaduras e muita cirurgia oncológica, não só de reconstrução, mas também da pele. Neste último caso, são cada vez mais intervenções por ano, pequenas cirurgias que muitas vezes colocam desafios grandes em termos de técnica reconstrutiva.

 

Em todos os tipos de cancro cutâneo?

 

 

 

Sim, basaliomas, carcinomas espino-celulares e melanomas, felizmente em muito menor número. Mas basaliomas são imensos.

 

Então a actividade hospitalar abrange tudo isso?

 

Sim, desde as má-formações congénitas, passando por sequelas de traumatismos, até cirurgia oncológica da mama e pele e ainda as queimaduras. Felizmente, nas queimaduras há mais prevenção e já não temos os números de antigamente.

 

A cirurgia oncológica tem aumentado?

 

Não só na nossa especialidade, mas em todas.

 

Apesar dessa abrangência fala-se sobretudo na parte estética... Sim, porque é aí que a nossa especialidade se reveste daquela maior espectacularidade. Nomeadamente quando envolve estrelas de cinema com grandes resultados ao nível da cirurgia estética, temos essa vertente mais espectacular.

 

Mas essa é uma visão muito redutora?

 

Exacto. A cirurgia estética é apenas uma vertente da cirurgia plástica, mas esta também tem a Cirurgia Maxilo-facial, o tratamento de queimaduras, a Cirurgia da Mão, etc, etc. Embora a cirurgia estética tenha esta vertente de espectacularidade que apela às revistas cor-de-rosa e às massas.

 

Na Medicina Privada é a cirurgia estética que prevalece?

 

Nem por isso. Actualmente, faz-se muita cirurgia oncológica, até devido aos seguros de saúde. Faz-se já muita cirurgia reconstrutiva da mama pós-tumoral, assim como intervenções de redução e aumento mamário. Ao nível da estética, na privada faz-se muita cirurgia do tronco: mama e barriga.

 

Nos últimos anos temos assistido a uma profusão de especialistas e técnicas nesta área...

 

Há coisas que são fáceis de fazer. Qualquer pessoa com um mínimo de experiência consegue fazer algumas coisas. Mas isto é como conduzir um carro. É preciso ter carta de condução, apesar de haver gente que conduz sem carta. A Cirurgia Plástica é uma especialidade que obriga à licenciatura de Medicina, a anos de estágio, a uma especialidade de seis anos... Portanto, há muita gente que não quer esperar tanto tempo, ou que não conseguiu fazê-lo e mesmo assim se intitula cirurgião plástico, ou uma outra coisa qualquer, e faz uns tratamentos de Medicina Estética, umas injecções, uns botox... e aquilo está tudo no limiar da ilegalidade, e se algo correr mal a Ordem dos Médicos não vai defender esses associados. Chamo a atenção para isso porque há cada vez mais gente a fazer tratamentos de Medicina Estética. São anestesistas, internistas, clínicos gerais... e eu não sequer discuto haver especialistas, por exemplo na área da Dermatologia, que têm todo o direito de fazer coisas na pele. Agora outros especialistas... Isto é um princípio ético e deontológico que devia ser respeitado e não é respeitado.

 

 

 

Portanto, quando alguém quer fazer uma intervenção convém se informar minimamente sobre os profissionais que a vão fazer?

 

Sim, devem estar minimamente informados. Até porque muitas vezes o drama é não saber tratar as complicações, quando estas acontecem. Quando corre tudo bem, corre bem.... Agora, é preciso que, quando corre mal, saber como se tratam e isso normalmente já obriga a outras competências.

 

Então há mais lugares e profissionais a fazer medicina Estética...

 

Mas muito deles não estão devidamente habilitados para isso. É por isso fundamental que as pessoas que queiram fazer um tratamento, se informem muito bem antes.

 

E depois quando há complicações, acabam por ir ao Hospital?

 

Sim, acabam por ir para as Urgências. Ultimamente, por exemplo, temos atendido casos de complicações de intervenções feitas na Venezuela.

 

Por ano, quantas intervenções se fazem no SESARAM? Acima das mil intervenções anuais.

 

In “Diário de Notícias”