Na Região, estão referenciados cerca de mil idosos com idades entre os 80 e os 84 anos que vivem sós e outros 700 que vivem com uma pessoa com mais de 65 anos

 

De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela Direcção Regional de Estatística da Madeira (referentes a 2016) a Região tem cerca de 10.500 residentes com 80 anos ou mais. Estes números não causam espanto, afinal, nos últimos anos, a esperança de vida aumentou e os cuidados de saúde melhoraram.

 

Porém, nem todos os números são positivos. Serão cerca de um milhar os idosos com idades compreendidas entre os 80 e os 84 anos que vivem sós. Outros 700 vivem acompanhados de uma pessoa com 65 anos ou mais de idade. E estes são os casos que estão referenciados através do Serviço de Ajuda Domiciliária da Segurança Social, o que significa que podem existir outros casos semelhantes.

 

Um primeiro diagnóstico da situação dos idosos da Madeira e Porto Santo já foi feito pela Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), estrutura criada em Julho deste ano, na dependência directa do Secretário Regional da Saúde, no sentido de avaliar a problemática para lançar o projecto regional de coordenação e acompanhamento da estratégia de operacionalização da Rede de Cuidados Continuados Integrados da Região Autónoma da Madeira (REDE).

 

Bernardete Vieira, coordenadora da UMCCI, diz ao DIÁRIO que a primeira análise é indicadora de “uma realidade muito dura” e por isso, “é urgente uma estratégia global no sentido de respondermos a este problema”.

 

Segundo explica, desde os anos 90 que tem sido feito um esforço ao nível da Região no sentido de criar lares e outras respostas. Mas não foram suficientes para as crescentes necessidades. “É urgente criar medidas para lidar com o problema do envelhecimento da população e sobretudo das grandes dependências destas faixas etárias”, diz.

 

3.400 com ajuda domiciliária

 

Neste momento, os Serviços de Ajuda Domiciliária do Instituto de Segurança Social da Madeira, apoiam 3.400 idosos. É neste grupo que estão referenciados 997 idosos com idades compreendidas entre 80 e 84 anos que vivem sós. São 2.480 os que vivem acompanhados, mas destes, 699 vivem com pessoas que têm mais de 65 anos.

 

A preocupação recai sobre estes mais de 1.600 idosos porque, em caso de doença ou acidente, o caminho mais habitual é o que leva ao Serviço de Urgências do Hospital. De lá, e se o regresso a casa estiver fora de possibilidades, são poucas ou nenhumas as soluções.

 

Os lares da Região têm uma lista de espera com 948 idosos. As 1.366 camas disponíveis, em lares públicos ou privados (1.032 são geridas pela Segurança Social) estão totalmente ocupadas, sendo que, em média, há 18 idosos a serem internados por mês. As soluções, neste momento, são inexistentes.

 

526 camas em unidades da Saúde

 

Com a falta de camas nos lares, a solução encontrada foi a de recorrer a algumas unidades de saúde, onde foram criadas as chamadas camas de internamento de longa duração. Neste momento, são mais de 500 espalhadas entre Hospital Dr. João de Almada (2º piso com 99 camas e 3º piso com 67), Hospital dos Marmeleiros (4º piso - 72 camas), Centros de Saúde de São Vicente (26 camas), de Santana (22 camas ) e da Calheta (13). O Atalaia tem actualmente 211 camas contratadas pela Secretaria da Saúde para este efeito e, entretanto, outras 25 camas foram ‘requisitadas’ à Dilectus - Residência assistida.

 

Bernardete Vieira é peremptória: “é necessário tirar este peso do Orçamento da Saúde”, até porque o problema “é grave e só tende a piorar”.

 

E se estas unidades de saúde há muito que deixaram de ser consideradas como tal, para serem geridas como unidades de longo internamento, embora custeadas pela Secretaria Regional da Saúde, ainda há uma percentagem das chamadas camas para doentes agudos que são ocupadas por idosos que, mesmo não necessitando de cuidados médicos constantes, não têm lugar para onde ir.

 

Prova desse facto são as chamadas ‘altas problemáticas’ que continuam a persistir. Segundo Bernardete Vieira são em média 55 (22 no Hospital Dr. Nélio Mendonça e 33 no Hospital dos Marmeleiros) as camas ocupadas por idosos que não necessitam de tratamento médico. “Logo que houver vagas noutros sítios, serão transferidos”, diz a coordenadora da UMCCI. O problema é que essas vagas são cada vez mais difíceis de encontrar.

 

Reforço de verbas é fundamental

 

Com o diagnóstico feito, agora é preciso encontrar soluções e implementar medidas urgentes. Para isso, Bernardete Vieira diz ser fundamental uma estratégia global, de toda a Região, porque o problema do envelhecimento não é apenas da Segurança Social ou da Saúde. É de todos. Daí a necessidade de encontrar respostas articuladas entre os vários sectores do Governo, entre autarquias e IPSS. Mas para isso, reforça, são necessárias verbas, seja ao nível do orçamento da Segurança Social, seja também do próprio Orçamento Regional. “É uma das prioridades que o Governo tem de assumir e que creio está a assumir”, diz.

 

E as soluções são várias, mas nada pode ser feito sem verbas. A coordenadora da UMCCI diz que, para conseguir resolver o problema das camas em unidades de saúde, sobretudo os casos das ‘altas problemáticas’ e da lista de espera, seriam necessárias mais 1.300 camas em lares. Depois é fundamental reactivar e dinamizar a REDE, criando mecanismos para que as unidades hospitalares não voltem a ter este ‘peso’.

 

E para manter os idosos nas suas habitações, é necessário reforçar os recursos humanos na ajuda e visitação domiciliária, assim como criar condições de acessibilidade em muitos domicílios que estão pouco preparados para um idoso com problemas de mobilidade.

 

Há muito a fazer, mas a realidade não está a ser ignorada, garante. Pelo bem da Região

 

Hospitalização domiciliária vai avançar

 

A médio prazo, a Secretaria Regional da Saúde, vai avançar com o projecto de Hospitalização Domiciliária, algo que já se faz há alguns anos em algumas ARS de Portugal continental”. Ao DIÁRIO, o secretário regional, Pedro Ramos, explicou que este projecto vai permitir um maior controle sobre o número de camas com alta clínica, que neste momento não conseguem regressar ao domicílio. “Se as pessoas puderem ser tratadas nas suas casas, poderemos desocupar X camas que neste momento estão ocupadas por altas clínicas, continuando a tratar as pessoas com toda a segurança e qualidade, fazendo os tratamentos que necessitem num ambiente menos hospitalar, menos hostil, menos sujeito a infecções”, explica o governante. Esta é uma das soluções que dá resposta ao diagnóstico feito pela UMCCI, refere Pedro Ramos.

 

O objectivo é encontrar ainda outras medidas que “a partir de 2018 permitam controlar melhor o acesso aos cuidados de Saúde e a qualidade da prestação do serviço, assim como permitir uma maior e mais efectiva articulação entre o papel da Secretaria Regional da Saúde e o papel da Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais, e de todas as entidades que têm responsabilidades de procurar resolver uma situação, não a deixando agravar, mas oferecendo novas soluções”.

 

In “Diário de Notícias”